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Cristina de Luca

Começa em julho o projeto para descentralizar o tráfego internet no país

Cristina De Luca

31/05/2017 13h51

Conhecer como a malha da internet é formada e como o tráfego flui é algo que deveria estar no radar de todo profissional que trabalhe na e para a Rede. Hoje, trago boas notícias nessa área. O Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), responsáveis pelo IX.br (PPT.br), se preparam para a inauguração, em julho, na cidade de Salvador, do primeiro piloto do projeto OpenCDN http://opencdn.nic.br/ , que objetiva descentralizar o tráfego internet no Brasil, hoje demasiadamente concentrado em São Paulo.

A iniciativa vai promover melhorias na velocidade, no custo e na qualidade do acesso à Internet no país. Como? Aproximando os usuários dos conteúdos que desejam acessar, reduzindo as distâncias entre os provedores de conteúdo e os provedores de acesso (ISP – Internet Service Provider).

Hoje, os conteúdos que acessamos na Internet não estão disponíveis em um local centralizado. Eles estão distribuídos em diversos servidores, em diversos datacenters, em múltiplas localidades, tanto na estrutura de quem fornece o serviço, como também dentro das redes dos provedores de acesso. Essas estruturas são chamadas de CDNs (Content Delivery Networks).

Elas oferecem uma melhor experiência para os usuários da Internet, reduzindo o tempo de acesso, aumentando a velocidade, melhorando a disponibilidade e oferecendo segurança contra diferentes tipos de ciberataques, incluindo os de negação de serviço (DDoS). E estão presentes nos principais Internet Exchanges (IX), ou pontos de troca de tráfego (PTT) e nas redes dos principais provedores de acesso.

Ou seja, a maioria das grandes empresas provedoras de conteúdo e de serviços na Internet (Netflix, Google, YouTube, Facebook, Globo, UOL, os bancos de maneira geral, etc) está presente nos principais IXs, como o de São Paulo, que atingiu a impressionante marca de 2 Tbps (Terabits por segundo) no fim do mês de março.

"Isso representa mais de 80% de todo o tráfego Internet trocado entre redes (AS- Autonomous System) da internet brasileira", explica Milton Kaoru Kashiwakura, Diretor de Projetos Especiais e de Desenvolvimento do NIC.br. "São Paulo se tornou um hub da Internet brasileira. É o quinto IX do mundo em volume, perdendo só para os da Alemanhã, Amsterdã, Londres, Moscou, e o próprio IX.br e o primeiro em termos de participação", comenta o executivo.

Para os pequenos provedores regionais, chegar até esses principais IXs, onde a maioria dos sistemas autônomos da internet quer estar conectado, é caro. Exige que eles precisem contratar links de transporte para chegar aos principais IXs ou aos principais provedores de acesso.

Se fossemos imaginar a Internet como uma malha de rodovias, significa dizer que para ter acesso a determinados produtos e serviços, todos os pequenos provedores de acesso regionais precisam entrar na cidade de São Paulo.

O que o OpenCDN pretende fazer é criar o equivalente a entrepostos próximos aos outros 25 IXs. Na prática, os OpensCDNs vão funcionar como células de distribuição de conteúdo conectadas aos Pontos de Troca de Tráfego Internet no IX.br nas diversas regiões do Brasil.

Com ele, os provedores de conteúdo poderão instalar seus servidores de cache em datacenters conectados aos IXs locais, de diferentes regiões do Brasil, descentralizando o tráfego e a distribuição de conteúdo. Uma única estrutura de cache será capaz de atender a diversos provedores de acesso locais, que poderão compartilhar os custos dessa infraestrutura (datacenter, transporte ao IX.br de São Paulo e trânsito à Internet).

A intenção do Nic.br é chegar a ter um OpenCDN conectado a cada IX brasileiro. Tudo vai depender dos resultados obtidos com o piloto. O planejamento para 2017 é ter um OpenCDN em ao menos quatro cidades brasileiras, a serem escolhidas após o piloto em Salvador.

E a escolha de Salvador para sediar o piloto tem boas razões. O PTT de Salvador tem um número expressivo de Sistemas Autônomos conectados a ele e pico de tráfego de aproximadamente 14 Gbps, de acordo com Julio Sirota, gerente de Infraestrutura do IX.br. Portanto, é suficientemente distante de São Paulo e conta um grande número de redes conectadas a ele, permitindo que as vantagens do projeto para provedores de conteúdo e provedores de acesso fiquem ainda mais evidentes.

Além de reduzir o custo de operação dos pequenos e médios provedores, ao descentralizar a distribuição de conteúdo, o OpenCDN também ajuda a promover o desenvolvimento regional da Internet.

De acordo com o NIC.br, 10 sistemas autônomos estão interessados em estar no OpenCDN de Salvador. Entre eles estão JSX Telecom (AS52696), Play-IP Telecom (AS61648), PDN Telecom (AS262687), Linkvida Telecom (AS265028), e Viva Tecnologia Telecom (AS266413).

Posso assegurar que ao menos três grandes provedores de conteúdo internet também participarão da iniciativa. E outros deverão segui-los.

Gestado desde 2015, desta vez o projeto OpenCDN sai mesmo do papel. A Internet .br agradece. O Brasil tem mais de 4 mil Sistemas Autônomos, e aproximadamente 87% são ISPs. Atualmente, apenas 6 (seis) ISPs detém cerca de 70% das conexões à Internet. É um mercado concentrado. Entretanto, 30% ainda representa um número grande de usuários. É muito importante alcança-los, e o OpenCDN pode ajudar as CDNs a fazê-lo.

Para participar, CDNs, ISPs ou outros Sistemas Autônomos devem firmar um termo de adesão que será enviado pela equipe do NIC.br após o preenchimento de um formulário, disponível no recém-lançado site do projeto.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.