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Cristina de Luca

Voz já começa a despontar como principal interface para uso da Internet

Cristina De Luca

01/06/2017 08h41

Todos os anos, quem trabalha com internet volta suas atenções para a bola de cristal de Mary Meeker, investidora da Kleiner Perkins. Ontem, durante a Code Conference, que acontece na Califórnia, Meeker revelou finalmente o tradicional relatório "Internet Trends", edição 2017.  E uma tendência, em especial, chama atenção: o amadurecimento do uso da voz para acesso a recursos da Internet, em substituição à digitação.

Segundo Meeker, a voz já foi responsável por 20% das consultas móveis em 2016, com precisão de cerca de 95%, especialmente em inglês. E avança rápido em outros idiomas e dispositivos. Um exemplo é o vertiginoso crescimento das consultas feitas através de assistentes digitais embarcados em dispositivos como o Amazon Echo e Google Home. OK, são dispositivos de uso restrito aos Estados Unidos, na maioria dos casos, mas que já começam a despertar o desejo de consumidores e marcas no Brasil. Não há um laboratório digital de grandes empresas que não esteja estudando e desenvolvendo APIs para os dispositivos.

Nunca é demais lembrar que a Amazon iniciou 2017 disposta a levar a assistente digital Alexa a todos os dispositivos que puder, inclusive smartphones da Apple. E customizar o hardware Echo para casos de uso específicos e salas específicas que frequentamos diariamente, inclusive a do escritório. Um cenário possível é ter o Alexa e outros assistentes virtuais, como a Siri e o Google Assistant, em alguns dispositivos vestíveis que farão parte das funções realizadas pelos smartphone hoje.

O dado negativo? À medida que a interface de voz se tornar mais comum no cotidiano do consumidor, o mecanismo de busca do navegador tenderá a ficar menos relevante. Não por acaso, o Google tem investido para valer em Machine Learning para reconhecimento de linguagem natural.

Ah! Chatbots conversacionais, usando a voz, também não tardam a tornarem-se mainstream! Prometo me debruçar mais sobre este assunto, em breve. Há um aumento rápido na porcentagem de conversas de atendimento ao cliente acontecendo através de bate-papo online em tempo real em vez de telefones, já que os usuários exigem tempos de resposta mais rápidos e acesso mais amplo.

Outros insights
Com mais de 35 slides, a apresentação do relatório cobriu uma série de tópicos relevantes para gigantes de tecnologia e startups, empresas de mídia e todos que usa, a Internet como mídia, já considerada por Meeker um mercado maduro. Razão pela qual,  seu crescimento vem desacelerando ano a ano, no mundo. As oportunidades para aumento do número de usuários estão nas regiões menos desenvolvidas do planeta. Pensou nos projetos da Google e do Facebook para conectar o próximo bilhões de pessoas? Pois é…

Mas como esses projetos demoram, para continuar a crescer rapidamente Meeker recomenda aos gigantes olharem com mais carinho para a China e a Índia. O número de usuários de internet na Índia cresceu mais de 28% em 2016. E isso representa apenas 27% de penetração online, o que significa que há muito espaço para o desenvolvimento da Internet lá. Esse crescimento foi impulsionado, em grande parte, pelo declínio nos custos das conexões de dados, de 3% do PIB per capita médio anual para 1,3% desde 2015, permitindo que mais pessoas paguem pelo uso da internet.

Já na China,  o crescimento do comércio eletrônico foi de 24% na variação anual. O dado surpreendente é que cerca de 71% dos gastos com comércio eletrônico vêm de dispositivos móveis. De acordo com Meeker, o uso de Internet móvel na China está superando em muito o crescimento de assinantes, com crescimento de 30% na variação anual.  No geral,  o país encerou o ano passado com 700 milhões de usuários de internet móvel. No total, a China tem 688 milhões de usuários de internet. O que significa que metade da população chinesa está online. A maior parte do tempo gasto na Web é dominada pelos três gigantes da tecnologia chineses – Tencent, Alibaba e Baidu.

Por falar em mobilidade, outro fator limitante do crescimento da Internet é a redução de ritmo do crescimento global dos smartphones: os embarques dos telefones inteligentes cresceram 3% ano a ano em 2016, contra 10% no ano anterior.

Em compensação, a publicidade digital só faz crescer.  A propaganda em mobile (US$ 37 bi) já ultrapassou a do desktop (US$ 36 bi) no mercado americano. No mundo, a publicidade na Internet deve ultrapassar a publicidade em TV ainda este ano.  Meeker diz que, dentro de seis meses, os dólares gastos em anúncios na internet devem eclipsar os dólares gastos na televisão, ao menos nos Estados Unidos, indicando uma grande oportunidade para os produtos móveis absorverem parte deles.

Mas atenção, anunciantes: o uso de bloqueadores continua a crescer. E esse crescimento será vertiginoso para os anúncios em plataforma móveis.

A grande tendência em relação à propaganda digital, no entanto, são os anúncios com base no que estamos olhando. O reconhecimento de imagens e os aplicativos de câmera permitirão que as plataformas de anúncios reconheçam o que estamos procurando e ofereçam anúncios mais relevantes. Quem participou do Think with Google, ontem, em São Paulo, pode ver na prática como Machine Learning faz a mágica funcionar.

A diversificação do mercado de nuvem é outra tendência que chegou para ficar, na opinião de Meeker, com usuário priorizando cada vez mais evitar a dependência dos fornecedores. Multicloud, cloud híbrida… É por aí que vamos. A boa notícia é que embora a segurança ainda seja uma preocupação, diante da grande quantidade de novas aplicação,  a proporção de usuários preocupados com este aspecto continua a cair. O mesmo acontece em relação ao custo dos serviços na nuvem.

O relatório completo você encontra em https://www.slideshare.net/kleinerperkins/internet-trends-2017-report. Vale olhar com calma. Tem  dado interessante que não acaba mais lá, sobre streaming, games, reconhecimento de imagens e muito mais. Recomendo.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.