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Cristina de Luca

Novo bloqueador de anúncios do Safari cuidará da nossa privacidade, mas...

Cristina De Luca

12/06/2017 21h11

Recentemente, o Google anunciou como pretende responder às queixas sobre publicidade online. Logo depois, a Apple anunciou a inclusão de um bloqueador de anúncios no Safari (versão desktop) como parte de uma série de atualizações do seu sistema operacional (MacOS High Sierra).

As duas empresas implementarão mudanças em seus navegadores para neutralizar alguns dos formatos de anúncios irritantes, mas apenas a Apple optou por abordar preocupações em torno da privacidade do usuário, segundo análise da Electronic Frontier Foundation (EFF).

Como mencionei aqui no blog, em algum momento em 2018 o Chrome começará a bloquear todos os anúncios que não sigam as novas recomendações da Coalition for Better Ads (CBA). Além disso, passará a oferecer a opção de pagamento, através de um produto chamado Contribuidor, para usuários que não desejem ver nenhuma propaganda durante a navegação Web. Para os que pagarem, elas serão bloqueadas pelo browser.

Já o Safari, navegador da Apple, usará um método chamado Intelligent Tracking Prevention para impedir que os rastreadores de terceiros captem dados de navegação entre sites para segmentação de anúncios, usando cookies ou outras técnicas afins.

A Apple usará técnicas de aprendizado da máquina no navegador para saber quais cookies representam uma ameaça de rastreamento e  bloqueá-los. Segundo a EFF,  em uma abordagem semelhante à usada no Privacy Badger, disponibilizado pela fundação.

A mesma técnica também servirá para impedir o rastreamento entre sites que costumam buscar imagens e scripts de outros domínios que não os seus. O carregamento cross-site é uma característica poderosa da Web. No entanto, esse carregamento também permite o rastreamento dos usuários entre esses sites.

"Não se trata de bloquear anúncios. A web se comportará como sempre, mas sua privacidade estará protegida", se preocupou em explicar vice-presidente de engenharia de software da Apple, Craig Federighi, no palco da última WWDC.

A possibilidade de impedir o rastreamento é algo que a solução do Google é incapaz de oferecer, segundo a EFF. Na opinião da entidade, o que o Google oferece aos seus usuários é uma exclusão complicada e ineficiente de anúncios segmentados, mas não da coleta de dados e do acompanhamento comportamental por trás da segmentação.

Cuidar da qualidade da publicidade online é louvável, na opinião da EFF.  E com uma vasta rede de sites que exibem seus anúncios e mais de 50% do mercado de navegadores, o Google tem o poder de resolver o problema da qualidade da publicidade digital, exigindo que os sites controlem os tipos de anúncios que mostram, para não perderem as receitas dos usuários do Chrome.  Mas é preciso não perder de vista também que a iniciativa é interessante para a empresa, já que coletivamente, os bloqueadores de anúncios estão prejudicando a receita do Google em programas como DoubleClick AdExchange , AdSense, Adwords. Ou, no caso do Adblock Plus e Adblock, desbloqueando esses anúncios, mas exigindo pagamentos em troca.

Sem dúvida, a opção do Google é mais sensível à realidade de que é a publicidade que financia grande parte da mídia e dos serviços online. Já a da Apple olha mais para o direito dos usuários de se protegerem contra o rastreamento.

A EFF alerta que, hoje, a publicidade é construída em torno de uma arquitetura de vigilância, e isso precisa mudar, para o bem de todos. Os usuários devem ter mais controle sobre os anúncios que são exibidos, e suas exigências de "Do not track devem ser respeitadas. Caso contrário, os usuários continuarão a instalar extensões de navegador como o Privacy Badger e usar a proteção de rastreamento em navegadores como Brave, Firefox, Opera e Safari para se protegerem.

Até aí, estamos todos de acordo.

Porém, há quem veja na iniciativa da Apple alguns efeitos colaterais que podem favorecer justamente as duas gigantes da Internet com as quais disputa a atenção dos consumidores: o Facebook e o próprio Google. Como o tráfego do Facebook ocorre em grande parte nos apps para dispositivos móveis, enquanto a Apple não implementar o Intelligent Tracking Prevention para o iOS, a novidade afetará muito pouco a turma de Mark Zuckerberg. Além disso, como a implementação do bloqueador deixa uma janela de 24 horas na qual os cookies podem permanecer disponíveis, os serviços de segmentação do Google manterão suas capacidades de rastreamento.

Já o ativista de privacidade Alexander Hanff, lembra que a versão desktop do Safari tem uma participação pífia de mercado. E que dificilmente será possível evitar rastreamento na ponta cliente da equação. Geralmente, os scripts do lado do servidor são capazes de reunir as informações do cookies. Vale ler o artigo publicado por ele no blog Privacy News.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.