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Cristina de Luca

#Conexão23: Futuro dos jornais pode ter Mark Zuckerberg como vendedor de assinaturas

Cristina De Luca

23/06/2017 10h11

Opa… Vou interromper sua leitura por alguns instantes, para uma espécie de nota do editor, antes de entrar no assunto deste post, propriamente dito. Desde o princípio, o objetivo deste espaço é fomentar o debate sobre a Internet e seu papel como principal insumo para os negócios, e principalmente, para a mídia. Razão pela qual, pretendo contar com a contribuição de profissionais que têm se dedicado a esse mundo.  O texto de hoje é de autoria de Silvia Bassi, jornalista com 32 anos de experiência como profissional de mídia especializada em tecnologia da informação e internet. Atualmente, Silvia  é publisher e diretora executive da DigitalNetwork, empresa responsável pela licença das marcas da IDG no Brasil. Em sua carreira, passou pela Folha de S. Paulo, Editora Abril e America Online Latinoamerica. Como pretendo que ela compartilhe mais suas ideias por aqui, estou abrindo para ela a #Conexão23.  Boa leitura!

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A celebração do aniversário de 150 anos do La Stampa, um dos mais importantes jornais diários da Itália, fez a cidade de Torino virar uma espécie de "G20 da indústria da informação". O jornal promoveu a conferência "Future of Newspapers" e juntou 21 publishers globais poderosos, donos de mídias tradicionais e digitais, para dar seus insights sobre como suas publicações pretendem se manter vivas e sustentáveis ao longo do século 21.

A discussão pode ser sumarizada em uma frase: Acabou o almoço de graça, se quiser ler notícias de qualidade abra a carteira.

A lista dos participantes, encabeçada pelo chairman do La Stampa, John Elkann, incluiu Robert Allbritton (Politico), Lionel Barber (The Financial Times), Jeff Bezos (The Washington Post), Mario Calabresi (La Repubblica), Carlo De Benedetti (GEDI), Louis Dreyfus (Le Monde), Bobby Ghosh (Hindustan Times), Tsuneo Kita (Nikkei), Jessica Lessin (The Information), Gary Liu (South China Morning Post Publishers), John Micklethwait (Bloomberg News), Zanny Minton Beddoes (The Economist), Maurizio Molinari (La Stampa), Lydia Polgreen (The Huffington Post), Julian Reichelt (Bild), Ascanio Seleme (O Globo), Andrew Ross Sorkin (The New York Times), Massimo Russo (GEDI), Mark Thompson (The New York Times) e Robert Thomson (NewsCorp).

O La Stampa montou um caderno especial com relatos do encontro (leia aqui em italiano) e colocou no YouTube a gravação completa de todas as conversas (você assiste aqui).

Para deixar clara a firmeza de propósito desses publishers, o La Stampa produziu um documento chamado Torino's To Do List no qual cada um dá o seu conselho e assina embaixo. Se você torce pelo futuro dos jornais ou faz parte dele, está aí um documento para colocar na moldura e deixar à mão.

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Notícia de graça, nem nas mídias sociais vai ter mais… se depender do CEO da News Corp., Robert Thomson, publisher do Wall Street Journal e do Times of London. Durante o encontro "Future of Newspapers" ele declarou que está em "conversas muito avançadas" com o Facebook sobre vender assinaturas do seu conteúdo online. Ele criticou os "jardins murados" (walled gardens) apontando o dedo para Facebook e Google (com mais bronca contra o segundo) – "feitos para manter as pessoas apenas dentro deles – e disse que na conversa com Mark Zuckerberg o tema é a importância de reconhecer o valor do conteúdo. "Estamos no meio das negociações com o Facebook para um mecanismo de assinaturas."

O acordo poderia incluir conteúdos específicos, como esportes ou negócios, diz Thomson, sem dar muito mais detalhes por hora sobre o que seria esse mecanismo. Mas se considerarmos que em algumas publicações online até 80% do tráfego vem da rede social, certamente é uma nova fonte de receita e, quem sabe, uma alternativa saudável para jornais e revistas manterem sua presença na rede social.

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Escreva bem, escreva certo e diga para as pessoas pagarem... é o conselho do sempre bold e polêmico Jeff Bezos, o homem mais poderoso do varejo global, que se transformou em um ícone do futuro (bom) do jornalismo ao comprar o The Washington Post pela bagatela de US$ 250 milhões em 2013. Sob sua tutela, o jornal prosperou, resgatou sua tradição de jornalismo investigativo e acabou 2016 contratando dezenas de novos jornalistas, na contramão da indústria norte-americana de jornais que, no final de 2015 tinha caído de 55 mil (2006) para 32,9 mil jornalistas empregados.

Bezos disse no debate que os jornais não podem se encolher diante da crise e deixar de cobrar pelo seu trabalho, o que de fato um excelente conselho… mas só se puderem mostrar a qualidade e o diferencial do que tem a oferecer aos leitores. O criador da Amazon.com é o cara perfeito para administrar uma indústria em crise como a da mídia: ele olha para o futuro do negócio, exige a qualidade lá no alto e não dá a mínima para o prejuízo na hora de fazer o que é certo porque sabe que lá na frente vai ganhar. Fez isso com a Amazon.com, está fazendo com o Washington Post. Quem sabe o que mais pode fazer.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.