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Cristina de Luca

Número de lojas online cresce 9,23% em um ano. Sinal de maturidade do e-commerce no país

Cristina De Luca

29/06/2017 13h37

Pela primeira vez no Brasil, o número de lojas online cresceu menos de dois dígitos na variação anual: 9,26%, entre 2016 e 2017.  Em números absolutos, isso significa 50 mil lojas virtuais a mais no mercado, do ano passado para cá, totalizando agora 600 mil. Também pela primeira vez, esse índice se aproxima do de expansão do comércio tradicional (lojas físicas) no mesmo período (8,57%). Os dados são da quarta edição da pesquisa "Perfil do e-Commerce Brasileiro", feita pela BigData para o PayPal, e podem ser encarados como um sinal de maturidade do nosso varejo online. Nos anos anteriores, o índice de crescimento foi sempre superior a 20%.

O quanto a crise econômica também pode ser contribuído para a redução do ritmo? Na opinião de Thoran Rodrigues, CEO da Big Data, muito pouco. "A tendência que nós observamos em outros momentos é a de que a crise, na verdade, leva as pessoas a empreender e e abrir lojas, o que faz esse índice crescer. O que a gente percebe agora é que as pessoas têm mais alternativas de geração de renda, com retorno financeiro mais rápido, como ser motorista do Uber", explica ele.  Abrir um e-commerce dá mais trabalho e dor de cabeça. Exige um planejamento maior.  Ainda assim, o índice de e-commerce sem lojas físicas associadas a eles cresceu. Agora representam 95% do total de 600 mil lojas online no país. E, toda semana, esse número muda um pouco.

Completando a safra de boas notícias, embora a taxa de mortalidade permaneça alta, o tempo médio entre um e-commerce surgir e desaparecer aumentou, passando de três para seis meses. "Para sobreviver, é preciso profissionalismo, dedicação", diz Thoran.

É bom deixar claro que a pesquisa considera como um e-commerce qualquer site que deixe o consumidor fazer uma transação de compra de produto ou serviço pela internet.

A concentração de lojas de empresas com sede em São Paulo vem caindo, embora ainda seja muito grande. Estados como Rio de Janeiro e Paraná registraram aumento considerável. Mas é cada vez maior a percepção de que não é preciso estar nos localizado nos grandes centros para estruturar um operação de e-commerce.

Os pequenos sites, de nicho, com oferta de menos de 10 itens e e com até 10 mil visitas por mês, continuam sendo maioria, embora sua participação no todo tenha caído 17,18%. Hoje, eles respondem por 76,72% do total de lojas virtuais.  A grande mudança nessa medição foi em relação aos sites grandes, que vendem mais de mil produtos diferentes e recebem mais de 500 mil visitas por mês. A participação deles no e-commerce nacional saltou de 0,76% em 2016 para 14,77% este ano. Isso em número de lojas, e não em volume de transações ou faturamento.

Outra taxa que aumentou bastante em relação à pesquisa do ano passado é a de sites responsivos, preparados para acesso móvel. Agora, eles são 24,2% do total, contra 16,12% em 2016.  E 3,47% das lojas online já contam com um  app de venda mobile.  "O que mostra que ainda há muito a ser feito para ampliar a experiência do consumidor, cada vez mais dependendo do smartphone", explica Thoran.

De acordo com ele, os números mostram que o mobile muda a maneira como as pessoas acessam o conteúdo e interfere diretamente na distribuição de visitas. "Tem mais de 70% de varejistas online que ainda não despertaram para a o fato de que ter um site responsivo, ou um app, faz parte da estratégia para atender melhor os consumidores", alerta o executivo da BigData.

Além disso, uma boa experiência móvel é, de certa forma, um complemento para a estratégia de uso de rede social para atrair um maior número de visitantes. Chama atenção na pesquisa deste ano o crescimento no uso de mídias sociais, especialmente Instagram e YouTube, como plataformas para divulgação de produtos e links de acesso para as lojas virtuais, respectivamente. Os bots ainda não aparecem na pesquisa.

Sete em cada 10 lojas virtuais usam as mídias sociais para estar mais próximas do consumidor. O Facebook ainda é a rede mais utilizada para este fim, embora tenha experimentado uma pequena queda na preferência. No ano passado, 54,96% dos varejistas online faziam uso da rede, contra 53,65% este ano. O Twitter cresceu, de 35,87% para 36,21%. O YouTube também, de 20,80% para 21,59%. E o Instagram saltou de 9,32%, no ano passado, para 12,73% agora.

Pensou em social commerce? Esqueça. O negócio aí é o trabalho feito através dos influenciadores digitais. Eles continuam sendo, senão grandes vendedores, ao menos bons "recomendadores", geralmente multimarcas.

Merece destaque também o crescimento de canais alternativos de pesquisa de preço, especialmente os relacionados aos marketplaces online.  A pesquisa registrou uma consolidação no uso de marketplaces. Foi uma tendência que se acentuou este ano, de acordo com Thoran. Não por acaso, as autoridades federais estão trabalhando em uma regulamentação para eles.

A pesquisa levantou ainda o índice de lojas virtuais que utilizam plataformas de e-commerce, e descobriu que houve um aumento no uso de plataformas disponíveis. Eram 185  no ano passado. São 205, agora, considerando apenas aqueles que atendem mais de 10 lojistas em atividade.  "Identificamos um total de 500 plataformas no país, mas a maioria não atende a esse requisito, ou por serem muito novas, ou por atenderem a um segmento muito específico", explica  Thoran.

Aquelas de tecnologia fechada cresceram (de 45,38% para 58,48%). Já o uso de plataformas tecnológicas abertas, como Magento ou OpenCart, caiu (de 16,86% para 13,28%). Caiu também a quantidade de sites construídos por desenvolvedores independentes, que não fazem uso de plataformas fixas (de 37,76% no ano passado para 28,24%).

Já em relação aos meios de pagamento, a pesquisa aponta um aumento no número de lojas que contam com a opção de carteiras virtuais, como o PayPal, de 41,21% para 45,67%.

O preço médio dos produtos é outro indicador interessante. O número mágico é R$100. A grande concentração é de oferta de produtos ou serviços abaixo desse valor.

E uma informação que traduz bem como o setor vem investindo muito em segurança, no decorrer dos últimos dois anos, é a taxa de e-commerces agora que trabalham com SSL (Secure Socket Layer, sistema que garante que o site é seguro). Em 2015, eles eram somente 20,68% do total; em 2016, chegavam aos 73,85%; e, em 2017, bateram nos 91,27%.

A nota ruim? Em plena "Era do cliente", a pesquisa ainda encontrou cerca de 30% de lojas que não fazem uso de nenhum recurso de análise automatizada para conhecer melhor seus visitantes, embora já existam muitas soluções de Analytics, gratuitas, disponíveis no mercado. Quase um terço dos e-commerces operam às cegas.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.