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Cristina de Luca

Quem pode parar o Facebook e o Google? Amazon e Verizon?

Cristina De Luca

03/07/2017 22h52

"Nós estamos nos transformando numa empresa de tecnologia", disse o editor-executivo do "Washington Post", Martin Baron, durante o 12° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que terminou no último sábado, em São Paulo. "Tecnologia é hoje incrivelmente importante para o nosso setor", completou ao avaliar o impacto da aquisição do jornal em 2013 por Jeff Bezos, criador e CEO da Amazon.

Concordo com ele. Em um mundo dominado por gigantescas plataformas multinacionais de distribuição de informação _ me refiro ao Google, Twitter e Facebook _ o jornalismo precisa entender que a tecnologia é parte integrante da indústria, não só na produção da mercadoria [a notícia], como na sua venda.

Não por acaso, as três gigantes da distribuição estavam presentes ao Congresso, em sua cruzada de não deixar a informação e o conteúdo de boa qualidade escaparem de suas fronteiras. Afinal, o negócio delas é vender publicidade associada ao conteúdo. E quanto melhor esse conteúdo for, mais elas ganham. Por isso, se esforçam para que as empresas jornalísticas usem, cada vez mais,  as ferramentas tecnológicas que disponibilizam. É um bom caminho? Depende.

A conversa com Baron foi a última atividade do congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Mais cedo, em uma mesa de debate sobre redações integradas, dois temas abordados por Baron já haviam surgido: a necessidade de aproximar a tecnologia cada vez mais da redação, principalmente, além de outros áreas do jornal, e a relação um tanto conflituosa, para dizer o mínimo, dos veículos com as redes sociais.

"Vemos o trabalho com as redes sociais como uma forma de tornar a marca conhecida", disse Juan Torres, Editor de Inovação do jornal baiano Correio, com sede em Salvador, que participou da mesa sobre integração. "As vezes, experimentamos um pico de acesso originado delas. Mas é o tipo de acesso que ainda não reverte em leitores fiéis e assinantes do jornal", explica ele.

A estratégia do Whashington Post é parecida. O jornal compartilha seu conteúdo em tantas plataformas quanto possíveis, a começar pelo Facebook Instant Articles, onde está publicando todo o seu conteúdo, indo também pelo Twitter, LinkedIn, Snapchat, Tumblr, Tumblr, Google+ e Instagram. A ideia é fazer com que o maior número possível de pessoas prove o seu produto (o jornalismo de grande qualidade) para, em seguida, fazê-los pagar por esse produto e torná-los repetidos compradores de produtos de maior valor. Em cada estágio, o pool de clientes pode até ser menor, mas gastará mais.

"Mas, não adianta ter uma ótima tecnologia se o seu produto é ruim. Se você vai a um restaurante e a comida é ruim, você não volta", disse Baron durante o congresso. E isso inclui fazer vídeos de alta qualidade, já que vídeo é a atual linguagem da Internet. "Precisamos nos adaptar", completou.

Outras três falas de Baron também me chamaram atenção: "Jornalistas do Washington Post ouvem a conversa do mundo pelas redes sociais"; "Nunca tivemos tantos engenheiros trabalhando conosco"; e "O que ele [Jeff Bezos]  nos deu foi uma forma de experimentar".

O coração tecnológico da transformação do Whashington Post em um jornal global_ e não apenas local _ é o seu CMS. É a partir dele que os jornalistas acionam as tecnologias que necessitam para produzir bom conteúdo jornalístico, em múltiplos formatos, e comandar a distribuição desse conteúdo em múltiplos canais. Um deles, bem novo, é o Echo, com o Alexa.

Ouvindo Baron falar, me lembrei de uma frase lida recentemente no Mashable: "De repente, pode parecer que a Amazon está sedenta para conquistar o mundo, mas a empresa tem se concentrado em dominar a internet, e há muito tempo". Jeff Bezos parece ter entendido, antes mesmo das gigantescas plataformas de distribuição, que o negócio delas dependia de bom conteúdo. E que um bom conteúdo jornalístico gera engajamento, capaz de ajudar a vender coisas. Comendo pelas beiradas, e silenciosamente, ele vem transformando o Whashington Post em uma grande plataforma de gerenciamento de conteúdo (o Arc Publishing) e a dobradinha Echo/Alexa em sua plataforma de distribuição.

O Arc é a infraestrutura que permite que o Washington Post não apenas publique conteúdo, mas também crie páginas, gerencie paywalls, distribua em canais sociais e colete e analise dados de usuários. Daí para vender produtos é um pulo.

Além disso, o Arc beneficia indiretamente a Amazon Web Services (AWS), a unidade de crescimento mais rápido da Amazon. Para a AWS, o Arc representa uma nova oportunidade para expandir seu alcance para o mundo editorial, onde uma série de empresas de software atendem a mídia e clientes corporativos que publicam cada vez mais material na web para alcançar diretamente seus clientes.

Hoje, só enxergo mais uma companhia nos Estados Unidos capaz de fazer frente a Google e Facebook como a Amazon será capaz de fazer: a Verizon, que ao comprar a America Online, reposicionou por completo sua atuação no mercado de Internet.

A AOL atual está completamente fora do mercado de provimento de acesso. Atua em duas áreas complementares: a Culture, que abriga conteúdo editorial através de publicações próprias como o Huffington Post, o Engadget e o TechCrunch; e a Code, que responde pela operação de publicidade digital, com ferramentas direcionadas a publishers e anunciantes interessados em extrair mais valor da inteligência que alimenta a mídia programática, várias delas fruto da aquisição de empresas nos últimos 7 anos. O diferencial? A expertise nas plataformas móveis.

Recentemente, após a aquisição do Yahoo!, a Verizon juntou as duas companhias sob o guarda-chuva de uma nova empresa, a Oath, passaporte da operadora para o bilionário negócio de mídia online. A Oath tem pessoas experientes e tecnologias valiosas. Entre elas, a suíte SSP [Supply side platform], da Vidible, uma das startups adquirida, especializada em Video-Syndication, e a Millennial Media, plataforma de publicidade móvel e monetização de apps.

A ideia por trás do nome Oath era transmitir um compromisso de longo prazo para o negócio de mídia digital. A empresa pretende chegar em 2020 com a 2 bilhões de consumidores", com receita anual entre US $ 10 bilhões e US $ 20 bilhões. O posicionamento para os comerciantes é que as marcas da Oath são lugares confiáveis ​​para fazer marketing.

Tanto a Amazon quanto a Verizon enxergam Google e Facebook como locais de passagem de seus conteúdos, não como destinos finais.  Diante da onda de notícias falsas,  as gigantescas plataformas de distribuição acabaram se descredenciando como fonte. O jogo agora é  levar mais gente para os sites noticiosos, que vão precisar saber aproveitar o canhão de audiência apontado para eles.

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Algoritmo vai colocar "spammers" no limbo do feed do Facebook….  como parte de seus esforços contínuos para reduzir o alcance e o impacto de conteúdo falso e enganador em sua plataforma. A atualização do News Feed limitará o alcance do conteúdo compartilhado por perfis que compartilham regulamente um monte de links. Isso quer dizer que tais publicações perderão relevância nos critérios de ranqueamento da rede social.

"Nossa pesquisa mostra que há um pequeno grupo de pessoas no Facebook que rotineiramente compartilham grandes quantidades de postagens públicas por dia, efetivamente enviando spam para as pessoas. Nossa pesquisa mostra ainda que os links que compartilham tendem a incluir conteúdo de baixa qualidade, como clickbait, sensacionalismo e desinformação. Como resultado, queremos reduzir a influência desses spammers e privar os links que compartilham mais frequentemente do que os compartilhadores regulares ", disse a rede social.

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Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.