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Cristina de Luca

Governo apresenta diretrizes para o Plano Nacional de IoT

Cristina De Luca

03/10/2017 21h50

O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) apresentaram nesta terça-feira (3/10), durante o Futurecom 2017, as diretrizes do Plano Nacional de Internet das Coisas (IoT), que será formalizado até o fim do ano por um decreto presidencial.

As diretrizes são resultado do estudo encomendado pelo MCTIC e BNDES ao consórcio um consórcio formado pela consultoria McKinsey Global Institute, o escritório Pereira Neto Macedo Advogados e a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). O estudo sugeriu a adoção de 61 iniciativas, dentre um total de 200 mapeadas como necessárias para o sucesso da IoT no Brasil, considerando o fomento à inovação e inserção internacional, à infraestrutura e conectividade, e à regulação de segurança e privacidade de dados.

Critérios para categorização
A escolha das 61 iniciativas obedeceu critérios como impacto no ecossistema, facilidade de implantação e alinhamento com a aspiração de "acelerar a implantação da Internet das Coisas como instrumento de desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira, capaz de aumentar a competitividade da economia, fortalecer as cadeias produtivas nacionais, e promover a melhoria da qualidade de vida". Elas vão direcionar políticas públicas para incentivar a criação de ecossistemas de IoT no país.

Inicialmente, os autores do estudo categorizaram as 61 iniciativas como "Ações estruturantes", "Medidas" e "Elementos catalisadores".  Assim que o Plano ficar pronto, elas também ganharão diferentes status, considerando os próximos cinco anos: iniciativas de curto, médio e longo prazo. Por curto prazo, entenda-se iniciativas a serem realizadas no 1º ano do plano. Médio, as iniciativas a serem realizadas no 2º e 3º anos do plano. E longo prazo, aquelas a serem realizadas no 4º e 5º anos do plano.

Assim, dentre as 61 iniciativas, 17 são consideradas estruturantes. São ações que possuem maior impacto na criação de um ecossistema robusto para IoT, segundo o relatório. É esperado que as instituições que lideram a implantação do estudo  foquem nelas, porém sem perder de vista iniciativas de ganhos rápidos, dada a importância de se conseguir sucesso no curto prazo.

Outras 31 iniciativas foram categorizadas como medidas. Elas complementam as ações estruturantes para a entrega dos objetivos específicos e estratégicos, ampliando o impacto do plano. São todas ações consideradas Importantes, porém não estritamente necessárias para que a Internet das Coisas se desenvolva no Brasil. Têm, no entanto, grande poder catalisador. Se implementadas, aumentarão o impacto de IoT na economia e tornarão o Brasil um país mais competitivo mundialmente no desenvolvimento da IoT. Seu andamento deverá ser acompanhado no âmbito da estrutura de governança do Plano Nacional de IoT, porém com menos intensidade que nas ações estruturantes.

O BNDES, por exemplo, quer ser um articulador ativo para estruturação e financiamento de redes de inovação e cooperação nos ambientes prioritários. " Estamos nos inspirando na experiência do Banco BPI, francês, que é um banco de desenvolvimento relativamente moderno, focado na articulação de redes de inovação, redes de empreendedores", comenta Carlos da Costa.

"Nós não estamos falando só de aspectos econômicos. Estamos falando dos impactos da IoT na vida do cidadão", comenta o diretor da área de planejamento e pesquisa do BNDES, Carlos da Costa. "O estudo nos ajudou a entender o que devemos acelerar no uso do IoT para acelerar a competitividade da economia brasileira no cenário global, em que nós não queremos proteger os nossos produtores, e sim apoiá-los para que eles sejam cada vez mais produtivos. Para desenvolver cadeias inovadoras locais com base no nosso talento, nos nossos investimentos e estratégias mobilizadoras  de tecnologia nacional", completou.

Segundo o executivo, o BNDES está comprometido a implantar com celeridade as disposições listadas no plano de ação divulgado hoje.  "Vamos ter 40 profissionais mobilizados para apoiar a materialização das primeiras iniciativas. É um dos maiores projetos da história do banco. Nós vamos aperfeiçoar os nossos instrumentos de financiamento, fortalecer o apoio a startups e a estruturação de PPPs que acelerem as a adoção efetiva de IoT.  Nós vamos apoiar a criação de um ambiente virtual de monitoramento e aprendizagem em IoT que engaje os atores do ecossistema, que promova a troca de experiências entre usuários e fornecedores", explica Carlos da Costa.

Já os elementos catalisadores são ações levantadas no curso do estudo que foram identificadas como capazes de potencializar o efeito de IoT no país. Vão além da Internet das Coisas, com estrutura de tomada de decisão já definida, fora do Plano Nacional de IoT, e envolvem temas que requerem uma discussão mais ampla de prioridades do país, como a agenda tributária e compras públicas. Segundo os autores do estudo, a difusão da banda larga para o país é um exemplo de elemento catalisador, tratado no Plano Nacional de Conectividade, que possui uma governança bem definida e envolve questões que precisam ser endereçadas pela Presidência da República e pelo Congresso Nacional.

O detalhamento de cada uma delas, e, por consequência, a definição de prazos e metas acontecerá nos próximos meses, durante a elaboração do decreto e a implementação do Plano Nacional de IoT.

Os quadros a seguir resumem o agrupamento das 25 iniciativas de acordo com cada objetivo específico do tema de Inovação & Inserção Internacional, que é a horizontal com o maior número de ações.

Os próximos,  sobre Capital Humano, falam em 10 ações:

E, abaixo,  13 em relação à infraestrutura e conectividade:

O relatório também aponta os principais catalisadores. São eles:

– Para  Inovação & Inserção Internacional

– Para  Capital Humano:

E para Infraestrutura e Conectividade:

Impactos na quatro verticais
Quem acompanha esse blog sabe que o  estudo identificou quatro ambientes prioritários para o uso em larga escala da IoT no país: agronegócio, indústria, cidades e saúde. O setor que larga na frente é o do agronegócio, no qual o Brasil já lidera mundialmente o desenvolvimento mundial de soluções voltadas à melhoria da produtividade na agricultura e na pecuária. A projeção é que a produção agrícola nacional pode ser aumentada em 49 milhões de toneladas até 2021 com a adoção de ferramentas de IoT.

Na indústria, a previsão é que a produtividade possa se elevar em até 40% com a melhoria do controle de estoques e da logística, além de haver uma projeção de queda de 20% nos acidentes de trabalho nas indústrias de base. Na área da saúde, os dados apresentados no estudo apontam a possibilidade de redução de 30% das crises provocadas por enfermidades crônicas, como diabetes e a asma, e contração de 40% nos custos de manutenção de equipamentos por meio do monitoramento com recursos de IoT.

Um outro estudo do McKinsey Global Institute estimou que o impacto de IoT na economia global será de 4% a 11% do produto interno bruto do planeta em 2025 (portanto, entre 3,9 e 11,1 trilhões de dólares). Até 40% desse potencial deve ser capturado por economias emergentes.

O estudo considera que a Internet das Coisas é uma oportunidade única e o Brasil está muito bem posicionado para capturar todo o seu valor. "Até 2025, Internet das Coisas terá um impacto econômico maior do que robótica avançada, tecnologias cloud e até mesmo do que a internet móvel. O impacto esperado no Brasil é de US$ 50 a 200 bilhões por ano, o que representa cerca de 10% do PIB", diz o relatório do plano de ação.

Na área da saúde, onde o plano prevê um impacto entre 5 bilhões a 39 bilhões de dólares, o objetivo é ampliar o acesso à saúde e descentralizar a atenção. Além disso, se buscará melhorar a atenção de doenças crônicas, tornar a gestão mais eficiente e gerar práticas de promoção e prevenção.

Na área rural, o Brasil se impõe com um objetivo muito exigente. O país quer se converter em exportador de soluções IoT para a agricultura. Nesse segmento, o plano prevê um impacto entre 5 bilhões e 21 bilhões.

No vertical das cidades inteligentes, a iniciativa do governo contempla a aplicação de soluções de mobilidade, segurança pública, uso de recursos eficientes e inovação. Nele, o plano espera impactar de 13 bilhões a 27 bilhões de dólares. "Queremos ser referência em todo o que se refere às cidades inteligentes", afirmou Costa.

Por último, no setor industrial, a estratégia é ajudar as fábricas em melhorar sua cadeia de produção, recursos e processos. Nesse segmento, IoT impactará com um valor entre 11 bilhões e 45 bilhões de dólares.

De todas as maneiras, o impacto de IoT no mercado poderia ser ainda maior. "São números conservadores!, afirmou Da Costa.

Os autores pontuam ainda que o plano de ação não deve estar restrito às iniciativas propostas ou à estrutura de governança que o conduzirá nos próximos 5 anos (a Câmara e o Observatório de IoT). "O objetivo deste trabalho é estimular ao máximo a troca de conhecimento, o surgimento de novos negócios e parcerias entre empresas consolidadas, startups, scale-ups e a academia", afirmam no relatório. Quem sabe, ter algumas unicórnios no segmento (satartups tecnológicas avaliadas em U$ 1 bilhão ou mais).
O maior desafio agora é a implementação.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.