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Cristina de Luca

TSE e Congresso Nacional debatem o combate às fake news nas eleições

Cristina De Luca

08/12/2017 18h48

Atualizada às 8h30 de 9/12/2017

O  Tribunal Superior Eleitoral realizou ontem, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Comitê Gestor da Internet (CGI.br), o primeiro dia de debates do Seminário do Fórum Internet e Eleições. Das exposições sairão subsídios para as regras que nortearão o trabalho da força-tarefa que combaterá abusos na propaganda eleitoral na rede, incluindo o uso de bots e a disseminação de "fake news" nas disputas do próximo ano.

Na opinião do recém eleito presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Fux, que substituirá o atual presidente, Ministro Gilmar Mendes, a partir de fevereiro de 2018, deve haver um mecanismo de obstrução às fake news para que elas não sejam capazes de influir no resultado da eleição. Mas é preciso analisar com calma a participação da PF, do Exército e da Abin nesse combate.

Fake news foi o tema tratado no primeiro painel, mediado pelo secretário-geral do TSE, Luciano Fuck. Os palestrantes foram o fundador da Safernet e conselheiro do CGI.br, Thiago Tavares; o diretor de conteúdo do site Jota, Felipe Recondo;  o advogado e cientista político, Murillo de Aragão e a diretora da agência de notícias Lupa, Cristina Tardáguila. Os outros três painéis trataram do uso de bots na propaganda eleitoral, a arrecadação de fundos pela rede via mecanismos de financiamento coletivo e o anonimato na internet e nas redes sociais.

Foi consenso entre os participantes de todos os painéis que a interferência da Justiça Eleitoral no conteúdo veiculado na Internet deve ser a mínima possível. E que a Internet continua sendo o meio mais barato e de maior alcance para a divulgação da mensagem dos candidatos. Por isso, é preciso preservar a liberdade de expressão, a participação política individual e a livre manifestação de pensamento e crítica do eleitor, dos candidatos e dos partidos na rede.  Uma postura intervencionista ao excesso exporia o TSE ao risco de praticar censura.

"Precisamos resistir à ideia de criminalizar questões relacionadas com o que acontece na Internet, principalmente diante da dificuldade de definir o que é fake news. Se criminalizarmos fake news sem saber o que é fake news, essa criminalização vai virar um instrumento de censura e vai acabar implicando na violação de outro princípio do direito penal, que é a falta de clareza da conduta criminosa. A pessoa tem que saber previamente por que ela vai ser punida", ponderou Alexandre Sankievicz, consultor da Câmara dos Deputados e professor do CEDIS/IDP, que também defendeu que o Tribunal resista à tentação de favorecer a retirada de conteúdos da internet sem ordem judicial.

Os principais tópicos abordados durante as explanações versaram sobre o uso de propaganda política segmentada na Internet,  sem critérios transparentes; rastreamento automático; criminalização das ações, transparência de dados dos usuários; assimetria no direito de resposta; diferenciação entre pseudônimo e anonimato perante o ordenamento jurídico; proteção do pseudônimo em redes sociais onde o nome fictício é lícito e totalmente amparado pela Constituição; identificação inequívoca de perfis falsos; diferenciação de perfis falsos e bots, principalmente no Twitter;  finalidade do uso de bots e grupos de apoio nas eleições, que vão além da mera possibilidade de denegrir a imagem de candidatos , já que também podem ser usados para tornar um candidato mais popular, por exemplo, ou para calar os críticos; e a necessidade de uma regulamentação que defina critérios e limite o uso do impulsionamento para a propaganda política na rede, além de delimitar também a forma de atuação da força tarefa que coibirá os crimes eleitorais na rede.

Semana atrás, o ministro Gilmar Mendes chegou a afirma que o TSE teria uma resolução específica para definir a atuação da força-tarefa que contaria com participação do Exército, da Abin e da PF. Teremos mesmo?

Resumindo, todas as questões giraram em torno das formas com que a Internet pode ou não ser usada para manipular o fluxo informacional no debate eleitoral. A possibilidade de manipulação é a preocupação maior! É preciso evitar aqui o que investiga-se ter acontecido na campanha eleitoral americana de 2016. Como bem lembrou o ministro Gilmar Mendes na sua exposição inicial,  ao abrir o seminário, o objetivo do TSE de ser encontrar caminhos para fortalecer a democracia em meio a tantos novos desafios.

Na avaliação do presidente do TSE, muitos foram os casos de fake news na história da democracia do país, antes mesmo do advento da Internet. "A prática é uma estratégia antiga dos marqueteiros, que sabem que a recepção de conteúdo pelos seres humanos é seletiva e que, por isso, precisam adaptar o discurso de seus candidatos para elevar seu alcance e, em última instância, conseguir votos.  A diferença é que, com a Internet e as redes sociais, a disseminação dessa informação passou a ser mais rápida, mais fácil, mais barata e em escala exponencial", comentou.

"Vivemos num mundo em transição. São muitas novas fronteiras. Tanto para o Direito Eleitoral quanto para a comunicação. E nós devemos estar preparados para isso e participar ativamente desse processo. Nessa nova trajetória, no entanto, temos como aliados antigas armas da humanidade: o bom-senso, a noção de ética e respeito ao próximo, bem como, sobretudo, o senso de justiça e de legalidade", disse Gilmar.

Esperamos que esses sejam realmente os balizadores do trabalho da força-tarefa.

Na próxima terça-feira (12/12), o Tribunal Superior Eleitoral dará continuidade ao evento realizado ontem. A segunda parte do Fórum terá como tema "Internet e Eleições: um desafio multidisciplinar" e será transmitida pelo canal do Tribunal no YouTube. Representantes do Google e do Facebook estão convidados para o painel com início previsto às 16h.

Antes, no entanto, segundo o publicado pelo jornal O Estado de São Paulo, o ministro Gilmar Mendes formaliza a criação da força-tarefa, batizada de Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições,  com a realização de uma reunião agendada para segunda-feira (11/12) envolvendo seus 10 integrantes, sete ligados ao tribunal e ao governo federal e três da sociedade civil, sendo dois deles do CGI.br.

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Fake news no Congresso
Também na semana que vem, na própria terça-feira (dia 12), a partir das 10h, o Conselho de Comunicação Social (CCS) do Congresso Nacional realiza outro seminário sobre fake news. A abertura do evento, que se realizará durante todo o dia no auditório do Interlegis, será feita pelo presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira. Também foram convidados para falar na abertura do evento o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes; e o ministro da Justiça, Torquato Jardim.

"Nosso objetivo é discutir o risco que as fake news são para a liberdade de informação, as consequências para a democracia e como abordar o fenômeno. Estamos recolhendo opiniões que embasarão uma recomendação e o posicionamento do CCS sobre propostas que tratam sobre fake news no Congresso", disse o presidente do conselho, Murillo de Aragão.

O segundo painel tratará "Os desafios e limites no combate às fake news" e deverá contar com a presença do ministro do TSE Tarcísio Vieira.

À partir das 14h, o tema será "fake news e plataformas digitais", que contará, entre outros, com nomes a serem indicados pelo Portal UOL.

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Candidaturas online
Lei Eleitoral poderá ser modificada para estabelecer regras específicas para candidatos interessados em fazer campanha exclusivamente pela internet. Essa possibilidade está sendo aberta por projeto de lei (PLS 43/2016) do senador João Capiberibe (PSB-AP), que foi aprovado nesta quarta-feira (6) em votação final pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).

A proposta reserva 20% de vagas para candidatos que queiram fazer propaganda eleitoral  exclusivamente pela internet,  blogs, redes sociais e aplicativos de envio de mensagens, como WhatsApp e Instagram. O projeto original permitia a cada partido ou coligação reservar até 30% dos registros de candidaturas para propaganda nesses meios.  No entanto, esse percentual foi reduzido por emenda da relatora, senadora Lídice da Mata (PSB-BA).

Além de alterar o percentual, a emenda transformou de facultativa para obrigatória a reserva de vagas para candidatos com campanhas apenas virtuais.

Originalmente, o PLS 43/2016 proibia qualquer doação de recursos ou gastos nas campanhas exclusivas pela internet. A única despesa admitida era com o custeio da conexão e de dispositivos de uso do candidato para acesso à rede. A emenda de Lídice também alterou essa restrição.

A relatora na CCJ mudou o texto original para permitir a propaganda paga pela internet. Assim, retirou a proibição para doações em dinheiro aos candidatos em campanha apenas virtual. E elevou de 10 para 120 salários mínimos o limite de recursos próprios que cada concorrente que aderiu a essa opção poderá usar na divulgação de seu programa.

Sem panfletos ou comícios
Por outro lado, Lídice manteve a vedação aos candidatos que utilizarem essa plataforma de investirem em outras formas de divulgação. Ficou impedido o acesso, portanto, à confecção e distribuição de folhetos, adesivos, impressos e cartazes; a comícios; à propaganda eleitoral na imprensa; e à propaganda eleitoral gratuita do partido ou da coligação no rádio e na televisão.

Pelo texto inicial, quem descumprisse essas regras de campanha poderia ser punido com a cassação do registro (se candidato) ou do mandato (se eleito). Lídice inseriu a aplicação de multa como outra alternativa de punição. O prazo de recurso contra essas decisões será de três dias, a contar da data de publicação do julgamento no Diário Oficial.

Além disso, o texto aprovado pune quem acusar injustamente um candidato de ter cometido um crime apenas para influenciar o resultado das eleições  com dois a oito anos de prisão e pagamento de multa. A pena será aumentada em 1/6 se o caluniador usar um nome falso ou fizer uma denúncia anônima. O autor da proposta, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), acredita que a mudança pode ajudar a combater atitudes "rasteiras e abomináveis", que violam a democracia ao influenciar o resultado das eleições.

O projeto segue agora para análise do Plenário do Senado.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.