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Cristina de Luca

2018, o ano em que o contexto voltará a ser rei?

Cristina De Luca

05/01/2018 14h52

Se, para muitos, 2017 foi o ano da narrativa (finalmente) adaptada às plataformas, 2018 tem tudo para ser o ano da justa valorização do contexto, frente a maneira predominante de produzir, processar e distribuir conteúdo, cada vez mais hiper fragmentada.

Há anos ouvimos falar no tal "contexto" e no "conteúdo com curadoria". Infelizmente, acreditamos, erroneamente, que os algoritmos pudessem, por si só,  fazer o trabalho de apresentar ao público o que fosse de maior interesse, no momento certo. O que vimos, infelizmente, foi uma enxurrada de clickbait, hot takes e fake news. Não por acaso, em 2016, o Oxford English Dictionary (entre outros) proclamou "pós-verdade" a palavra do ano. Em 2017, a honra foi concedida ao termo "fake news".

Pois bem, esses dois últimos anos de falsas narrativas impactaram não somente a credibilidade da mídia. Também ajudaram a desnudar, de forma irreversível, creio, o lado mais obscuro dos algoritmos de personalização – santo graal para a mídia, que nunca funcionou.

"O algoritmo sabe melhor" parece ser agora uma posição risível e ingênua, mesmo para as empresas que, inicialmente, empurraram essa narrativa.

2018 chega com a promessa de uso mais responsável, ético e inteligente dos algoritmos, não só pelas plataformas de distribuição, como pelas próprias empresas jornalísticas. Cresce a consciência de que chegou a hora de começar a usar algoritmos e personalização para garantir que as pessoas tenham uma visão mais ampla dos fatos, em vez de apenas dar a elas mais coisas de que gostem. Devemos e podemos usar as ferramentas tecnológicas para oferecer vários pontos de vista ou até mesmo atualizações e correções para o que as pessoas já viram ou ouviram.

"O mundo está mudando rapidamente, e agora, mais do que nunca, precisamos ampliar nossa perspectiva e estar melhor informados", comentou recentemente o ex-vice-presidente americano Joe Biden, ao comentar seu podcast diário chamado "Biden's Briefing".

O próprio Facebook assumiu o discurso de que dar mais contexto é uma maneira mais eficaz de ajudar as pessoas a chegar aos fatos propriamente ditos.

De maneira diferentes, o contexto determinará cada vez mais o futuro da mídia – e do marketing também. De acordo com pesquisas da IRI e da The Advertising Research Foundation, anúncios digitais colocados em sites com maior alinhamento temático resultaram em maior ROI.

"Esperamos que o contexto desempenhe um papel muito maior na compra de anúncios digitais", disse ao MediPost Bhanu Bhardwaj, vice-presidente sênior da IRI.

Será imperativo saber o que está acontecendo em torno de você – local, nacionalmente e globalmente – para criar mensagens e narrativas não somente oportunas, mas também, e acima de tudo, apropriadas – mostrando aderência aos valores apresentados pelas marcas em seus posicionamentos estratégicos. A empatia será o cerne de um ecossistema que suporte a experiência do cliente. As empresas estão sendo observadas de perto e julgadas.

Inteligência Artificial (AI) e Machine Learning serão o suporte fundamental que otimizará nossas comunicações. Até agora, a AI e o Big Data só vinham sendo usados para gerar um certo nível de personalização com base na compreensão dos leitores e consumidores.

Vivemos em um momento em que podemos realmente controlar onde e como nos comunicamos. 2018 promete isso ao próximo nível, com o conteúdo contextual sendo servido da forma mais adequada e plural possível.

A ver.

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Fátima, sua checadora oficial no Facebook

De olho nas eleições de 2018 e na crescente proliferação de desinformação nas redes sociais, o Facebook Brasil e organização de fact-checking Aos Fatos anunciaram nesta quinta-feira (4/1) a primeira etapa do projeto Fátima, de desenvolvimento de inteligência artificial na área de checagem de fatos. Fátima — que vem de "FactMa", uma abreviação de "FactMachine" — será um bot para Messenger que orientará as pessoas sobre como trafegar no universo de informações na internet.

Nessa primeira etapa, o chatbot conversará com as pessoas pelo Messenger para auxiliá-las no processo de verificação de conteúdo online. Por meio da plataforma, dará dicas de como separar notícia de opinião, de como encontrar dados confiáveis para diversos temas e mesmo de como saber se uma fonte é confiável ou não. O objetivo é que consumidores de notícias e demais informações na internet possam checar informações de maneira autônoma e se sintam seguros para trafegar na rede de modo confiável e sem intermediários.

O projeto tem como base a metodologia de checagem já consolidada por Aos Fatos e pelas principais plataformas de fact-checking verificadas pela International Fact-Checking Network.

O Aos Fatos produziu quatro manuais que ajudam os leitores a navegar por alguns tipos de desinformação online: declarações de políticos, notícias falsas, boatos e imagens fraudulentas. Esse repertório será expandido e adaptado para uso do bot.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.