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Cristina de Luca

Movimento #NãoValeTudo alerta para responsabilidades na campanha eleitoral

Cristina De Luca

26/02/2018 14h45

Bots e fake news não são fruto de geração espontânea. Para que se propaguem na internet precisam ter sido produzidos e impulsionados por alguém. Pensando nisso, e em promover maior transparência para as campanhas eleitorais, o Instituto Tecnologia & Equidade (IT&E) criou o movimento #NãoValeTudo, uma forma de fazer com que os signatários se comprometam com o uso ético das tecnologias digitais.

A ideia é mobilizar a sociedade civil através de uma carta-manifesto, já subscrita até agora por 35 entidades, incluindo o Instituto Ethos, a Fundação Avinae e o IDEC, além de empresas prestadoras de serviços para agências de marketing político e marketing digital, como o Labic e a Stilingue Inteligencia Artificial, e empresas de fact checking como a Aos Fatos e a Agência Lupa.

Com o intuito de garantir que as eleições ocorram de forma justa, transparente e democrática, o grupo pede abertamente que as campanhas usem dados e ferramentas digitais de forma responsável e que não recorram a robôs e perfis falsos para simular falsos debates.

"Nós repudiamos a manipulação da percepção do público sobre a discussão política realizada a partir da criação e do uso de perfis falsos", destaca a carta-manifesto. "Ao fazer crer que contas de redes sociais são controladas por usuários humanos reais e simular movimentações políticas sem lastro real, estas técnicas desviam o foco do debate. Muitas vezes servem para inflar ou atacar a imagem de pessoas de forma artificial e desonesta".

A iniciativa nasceu de conversas do IT&E com instituições que de alguma forma dialogam com a pauta "uso ético da tecnologia nas eleições", como o InternetLab, o Instituto Update, o Transparência Partidária e o Open Knowledge Brasil. E se inspirou em um movimento análogo que vem tomando corpo na Alemanha.

Ariel Kogan, diretor-executivo da Open Knowledge Brasil, coordenador do Voto Legal e um dos três diretores do IT&E, comenta que a ideia é realizar eventos presenciais e desenvolver atividades que aproveitem a experiência de todos os que já assinaram a carta manifesto, para angariar novos adeptos e promover ações estratégicas como o desenvolvimento da "Plataforma Pega-bot", em parceria com o Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio), e do AppCívico.

Segundo Kogan, o IT&E já começou a conversar com a Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação) para ganhar a adesão de seus associados e pretende fazer o mesmo com outras entidades como o IAB Brasil e a Abradi.

"Buscamos apresentar um conjunto de recomendações para o uso ético dessa tecnologia e a criação de uma plataforma aberta de identificação e denúncias de robôs ao mercado e aos políticos", diz Thiago Rondon, codiretor do Instituto e fundador do AppCívico.

Se interessou? Quer participar dos debates sobre os limites do uso da tecnologia para fins eleitorais? Dialogar com políticos e grandes empresas de tecnologia para mostrar que não vale tudo? Entre em contato com o IT&E (contato@tecnologiaequidade.org.br).

E gostaria de colaborar com um projeto que vai mapear e analisar o impacto de bots nas eleições de 2018? Então preencha um pequeno formulário sobre o assunto.

A pesquisa "Influência de robôs e fake news nas eleições brasileiras" é outra das ações do movimento. O objetivo é entender o impacto dos perfis não humanos em redes sociais nas eleições de 2018 e buscar incidir positivamente nesse cenário incluindo recomendações para o uso ético dessa tecnologia.

A propósito, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, tem até o dia 5 de março para definir o texto que vai regulamentar o combate às notícias falsas durante o pleito de 2018. A frente do Tribunal Superior Eleitoral, o jurista já declarou ser a favor da punição ao candidato que em sua campanha atuar de forma direta no uso de fake news (notícias falsas).

O Instituto Tecnologia e Equidade é uma entidade que desenvolve pesquisas e projetos experimentais com o objetivo de alcançar a equidade por meio do uso ético da tecnologia. Sua linha de pesquisa central, no momento, é a influência de robôs e fake news nas eleições brasileiras e o impacto da pobreza digital na equidade.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.