Entidades querem que Facebook nos dê ainda mais controle sobre nossos dados
Um dia após os históricos depoimentos do CEO e cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg, aos senadores e deputados norte-americanos, os efeitos do escândalo de uso indevido de dados por parte da Cambridge Analytica fizeram-se sentir também no Brasil.
Jogando ou não para a plateia, como cheguei a ouvir, o Procon-SP notificou a rede social pelo vazamento de dados de 433 mil brasileiros. A entidade de defesa dos consumidores quer saber como e quando ocorreram os vazamentos, assim como o tipo de dados expostos, além das providências já tomadas pelo Facebook a respeito. Já a Proteste, famosa por suas ações coletivas em defesa dos direitos dos consumidores, quer discutir uma compensação financeira aos usuários afetados pelo uso indevido de dados e mecanismos que deem aos usuários maior controle sobre eles.
Maior controle sobre os dados publicados nas rede social é também a preocupação do capítulo brasileiro da Internet Society (Isoc-br). "Não detemos total controle das nossas informações online e nem temos a real ideia de como elas são compradas, vendidas ou usadas. Não importa como ou quando começou a expansão dos dados. A lacuna entre o que esperamos e o que realmente é aplicado é uma violação imperdoável da ética. ", diz a entidade de defesa dos direitos civis na Internet em uma carta aberta endereçada ao Facebook.
A entidade lembra que, nas últimas semanas percebemos mais uma vez como as informações sobre nós mesmos, nossos amigos e contatos são usadas para muito além do que pretendíamos e prevíamos. "Nós fomos perfilados, confundidos e politicamente manipulados – em simples alusão, fomos jogados como peões no jogo de xadrez de outra pessoa. O desafio é encontrar alguém que diga sim, é para isso que eu estava me inscrevendo, eu sabia e estou totalmente confortável com o cenário desenhado a partir do caso Cambridge Analytica", provoca da Isoc-br.
De acordo com a Isoc-br, o sentimento de indignação que invadiu muitos dos usuários diante da violação da confiança por meio da qual o Facebook permitiu que um parceiro de negócios utilizasse os dados pessoais sem consentimento ou permissão explícita, ainda não expirou.
"É claro que gostamos de escolher os benefícios do acesso gratuito a plataformas online que nos conectam a amigos e permite conhecer novos; compartilhar nossas histórias, recomendações; encontrar novos e interessantes produtos, serviços e passatempos. Tudo aparentemente sem custo, em troca de apenas algumas informações para nos conceder acesso. Mas nossas escolhas são baseadas em uma imagem parcial e enganosa do que estamos realmente assinando, seguida de uma falsa impressão do risco como resultado", diz o texto da carta.
A entidade ressalta também que, a partir deste episódio será desencadeado um processo de investigação e resposta por parte dos governos, reguladores e encarregados de salvaguardar os direitos dos cidadãos. "No entanto, extenso como é, o Facebook é apenas um elemento do ecossistema online. Há questões mais amplas em jogo e elas precisam de uma ação abrangente de todos nós", completa.
E aproveita para expor cinco compromissos que considera cruciais para todas as empresas que coletam dados de seus usuários, não apenas as grandes redes sociais, pregando ter chegado a hora de , como sociedade, renegociarmos o acordo que fundamenta a Web 2.0. Confira.
"Isso é o que esperamos de qualquer pessoa que colete, use ou compartilhe informações sobre nós:
1. Justiça: seja justo conosco. Respeite nossos dados, nossa atenção e nosso "gráfico social". Em alguns casos, isso pode significar colocar nossos interesses acima dos seus. Busque nosso consentimento de forma honesta. E quando você usar ou compartilhar nossas informações, não exceda o que consentimos.
2. Transparência: seja claro conosco sobre o local onde estamos. Seja franco e honesto sobre seu modelo de negócios, seus parceiros, suas políticas e práticas de privacidade. Abra sua empresa até a auditoria de privacidade e diga-nos o que você está fazendo para alcançar os resultados.
3. Escolha: dê-nos escolhas genuínas, começando com "desativado por padrão". Vamos optar se acharmos adequado. Vamos sair quando mudarmos de ideia. Respeite nosso direito de parar de usar seus produtos e serviços. Exclua nossos dados quando sairmos – e até antes, se você não precisar mais.
4. Simplicidade: projeta seus serviços para fricção mínima e máxima conveniência; aplique seu esforço de design à privacidade também. Não espere que administremos nossos dados peça por peça, ou mexamos com configurações complexas: vamos expressar nossas preferências e intenções e respeitar nossa escolha.
5. Respeito: mostre seu respeito por nós e nossos interesses, especialmente nossa privacidade e autonomia. Não nos trate como mera matéria-prima ou como produto que você vende para seus clientes."
"É o momento de nos levantarmos e pedirmos um acordo equilibrado para ambas as partes – empresas e usuários. O jogo mudou e precisamos estipular novas regras", prega a Internet Society.
Assino embaixo.
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