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Cristina de Luca

Duas opiniões sobre o Facebook que não podemos deixar de considerar

Cristina De Luca

18/04/2018 13h05

Esta semana, dois pensadores da economia e da sociedade digital emitiram opiniões que revelam muito mais do Facebook do que as 10 horas e 30 mil palavras de Mark Zuckerberg em seu depoimento ao Congresso norte-americano.

Em um grande teatro em Vancouver, palco do TED, Jaron Lanier, um dos primeiros criadores da Realidade Virtual, disparou: "Não posso mais chamar as redes sociais de redes sociais. Eu as chamo de impérios de modificação de comportamento".

Lanier fez uma retrospectiva da web desde a sua fundação até hoje, mostrando como um modelo socialista "livre e acessível" se opõe ao poder e à riqueza de uma plataforma de anúncios em crescimento.

Nos primórdios da cultura digital, Lanier ajudou a criar uma visão para a internet como um bem público comum, onde a humanidade poderia compartilhar seu conhecimento – mas, mesmo assim, essa visão era assombrada pelo lado sombrio de como isso poderia acontecer: com dispositivos pessoais. que controlam nossas vidas, monitoram nossos dados e nos alimentam de estímulos.

Agora ele se questiona como pudemos cometer  um "erro globalmente trágico, e incrivelmente ridículo" de deixar empresas como o Google e o Facebook se tornarem a base da cultura digital, e se ainda há tempo de  corrigirmos a trajetória.

O grande problema, na opinião dele?  A cultura do almoço grátis.

"Não podemos ter uma sociedade onde, quando duas pessoas desejam se comunicar, a única maneira de fazer isso é financiada por uma terceira pessoa que deseja manipulá-las. Eu não acho que nossa espécie vá sobreviver, a menos que consertemos isso – disse, consciente do peso e poder das suas palavras.

E Lanier não foi o único. No TED 2018, questões sobre como nossas vidas conectadas e o ecossistema de informações ativadas pela Web estão impactando nosso mundo tomaram o centro das atenções.

Já hoje, em sua newsletter semanal, Ben Evans se debruçou sobre o newsfeed do Facebook. Publicado no Medium, o artigo "Facebook and the death of the newsfeed" se debruça sobre o funcionamento da rede social considerando o aumento exponencial de amigos virtuais que acabamos por colecionar.

Essa lógica, na sua opinião, levou inexoravelmente a rede social à 'alimentação algorítmica', que é realmente apenas um jargão técnico para dizer que, em vez nos dar uma amostra aleatória do que nosso amigos estão compartilhando, baseada no tempo, a plataforma tenta descobrir quais conteúdos de quais pessoas mais gostaríamos de ver.

"Por mais inevitável que pareça, esta abordagem tem dois problemas", diz ele. "Primeiro, acertar é muito difícil e é uma tarefa afetada por todos os tipos de desafios conceituais. E segundo, mesmo que a amostra seja a melhor possível, ainda assim será uma amostra".

O Facebook tem que fazer julgamentos subjetivos sobre o que parece que as pessoas querem, e sobre quais métricas deve capturar, e nada disso é estático. Esse é o desafio de acertar um algoritmo. Dilema que, na opinião de Even, afeta também o Google, quanto os resultados de busca. Com um detalhe que faz muita diferença para o buscador: parte de uma intenção explícita. Nós o informamos o que queremos ver. Poderíamos fazer o mesmo com o newsfeed?

Aí entra outra questão relevante. Se o feed for focado no que eu quero ver, então ele não pode ser focado no que meus amigos querem (ou precisam) que eu veja.  Nem no que eu quero que meus amigos vejam ou saibam. E aí, o jeito é usar mais os mensageiros e menos a rede social.

Vale ler.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.