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Cristina de Luca

WhatsApp será o fiel da balança na corrida eleitoral. Pode apostar

Cristina De Luca

21/05/2018 20h41

O WhatsApp  está assumindo um papel cada vez mais central nas eleições, especialmente nos países em desenvolvimento. A recente eleição na Índia é um bom exemplo.

Mais do que qualquer outro aplicativo de mídia social ou de mensagens, o WhatsApp foi usado nos últimos meses pelos partidos políticos indianos e pelos ativistas religiosos, principalmente, para enviar mensagens e distribuir notícias de campanha. Algumas pretendiam inflamar as tensões sectárias e outras eram falsas, disseminadas com o objetivo de manipular os eleitores sem nenhuma maneira de terem sua origem rastreada.

Alguma dúvida de que o fenômeno se repetirá no Brasil? E que WhatsApp, e também o Telegram,  serão impulsionadores  da divulgação das fake news?

Segundo o Datafolha, 63% dos eleitores brasileiros têm conta no WhatsApp, e 21% compartilham notícias sobre política brasileira e eleições no aplicativo.

O curioso é que o papel que o WhatsApp e outros mensageiros desempenham na influência dos eleitores recebe muito menos atenção do que o Facebook.

Desde o escândalo envolvendo a Cambridge Analytica o Facebook vem passando por um intenso escrutínio sob o olhar atento por parte dos reguladores.  Esta semana, por exemplo, o CEO Mark Zuckerberg se prepara para encarar uma nova sabatina sobre o escândalo, dessa vez, diante do Parlamento Europeu em Bruxelas, Bélgica. O encontro será amanhã, terça-feira (22/5), à tarde. Portanto, poucos dias antes do GDPR entrar em vigor. As regras do Regulamento Geral Europeu de Proteção de Dados exigem que empresas de tecnologia se adequem para operar dados de cidadãos europeus. A reunião deve abordar, portanto, ações da rede social para proteger a privacidade de seus usuários na Europa.

Do lado dos usuários, no entanto,  parece que houve pouco ou nenhum impacto da história da Cambridge Analytica na utilização da rede social. De acordo com números da ComScore citados pela Goldman Sachs, a quantidade de usuários únicos no segmento móvel aumentou 7% no comparativo ano a ano, para 188,6 milhões em abril. O tempo gasto no Facebook também subiu. O gráfico abaixo, publicado pela Business Insider, diz tudo.

Parece que a reação do #deleteFacebook nunca chegou realmente a existir, segundo a Business Insider. Esses números, e mais a recuperação completa do preço das ações da rede social, enfraqueceram por completo outras pesquisas que chegaram a sugerir que a confiança das pessoas  no Facebook estava em queda livre desde meados de março, quando Christopher Wylie revelou que 87 milhões de usuários tiveram seus dados comprometidos pela Cambridge Analytica.

Nos últimos seis meses o Facebook desativou quase 1,3 bilhão de contas falsas e bilhões de postagens que incluíam sexo, spam e incitação ao ódio, segundo reportagem do Recode. E, de acordo com esses números,  o expurgo de 583 milhões deles nos últimos três meses, incluindo aí o período pós escândalo,  teve "pouco ou nenhum impacto no alcance da audiência". A segmentação de anúncios até cresceu.

OK, do ponto de vista da campanha eleitoral os anúncios do Facebook realmente podem representar um grande problema. Até porque, segundo reportagem do BuzzFeed, bastam 30 minutos e um pouco de bitcoins para comprar um exército de contas falsas na rede social, apesar de Mark Zuckerberg ter afirmado perante o Congresso norte-americano, em abril,  que "ninguém tem permissão para craá-las".

Esse mercado de perfis falsos continua a crescer. "Deve haver milhões [de contas à venda]", especulou um vendedor de contas do Facebook baseado na Europa ouvido pelo BuzzFeed.

Nas contas do próprio Facebook os perfis faltam representavam aproximadamente 3% a 4% de seus 2,19 bilhões de usuários ativos mensais durante o quarto trimestre de 2017 e o primeiro trimestre de 2018.

O problema do WhatsApp
Ao contrário do Facebook , onde grande parte da atividade é publicamente visível online (com exceção dos grupos fechados e dos grupos secretos), as mensagens do WhatsApp são geralmente ocultas, visíveis apenas de pessoa para pessoa. Os usuários são identificados apenas por um número de telefone.

Grupos (limitados a 256 membros) são fáceis de configurar, bastando para isso adicionar o número de telefone de cada contato.

Como as pessoas tendem a pertencer a vários grupos, muitas vezes ficam expostas às mesmas mensagens, repetidamente.  Quando as mensagens são encaminhadas, não há indícios de onde elas se originaram. E tudo é criptografado, tornando mais difícil para os agentes da lei ver o que está sendo dito, a menos que chovam denúncias.

O TSE propôs ao WhatsApp uma espécie de colaboração, segundo um ex-funcionário da corte ouvido pela reportagem da Folha de São Paulo em março deste ano.  O objetivo é que o aplicativo dê prioridade ao atendimento de demandas da Justiça Eleitoral, por exemplo quando for preciso descobrir a origem de notícias falsas.

Mas será que o tribunal conseguirá ter atuação rápida a ponto de evitar manipulações?

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.