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Cristina de Luca

Fintechs brasileiras esperam aumentar receitas em 2018

Cristina De Luca

09/08/2018 23h34

A maioria (95%) das 224 empresas brasileiras de tecnologia financeira participantes da pesquisa "FinTech Deep Dive 2018", realizada pela Associação Brasileira de Fintechs (AB Fintechs), em parceria com a consultoria PwC Brasil, espera aumento de receitas em 2018. Delas, 67% têm a expectativa de aumentar a renda bruta em mais de 30% em relação ao ano anterior. Outras 28% preveem um crescimento entre 1% e 30% em 2018. O otimismo é ainda maior se consideramos a quantidade de fintechs que espera alcançar o break-even este ano:50%. Outras 36% têm expectativa de alcançá-lo até 2020.

Entre as fintechs que tiveram resultados positivos em 2017, quase todas esperam continuar crescendo em 2018, e mais de 90% acreditam que essa expansão se dará em ritmo igual ou maior do que no período anterior.

Por serem em sua maioria empresas em início de operação, terem dificuldades de acesso a capital e forte base tecnológica, o setor é bastante focado em eficiência e produtividade e ainda gera relativamente poucos postos de trabalho: 87% das fintechs empregam menos de 50 pessoas. Com o amadurecimento, seu potencial de geração de empregos aumenta naturalmente: 76% das que atingem a fase de consolidação têm mais de 50 funcionários.

Para alavancar suas operações, aproximadamente dois terços das empresas esperam fazer captações em 2018 e 90% das empresas que sinalizaram isso esperam receber mais de R$ 1 milhão. O grau de investimentos que as fintechs receberam também foi levantado no estudo: 40% delas captaram, desde sua fundação, aportes inferiores a R$ 1 milhão, enquanto 29% ficaram em um patamar entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões.

Mas para atrair um volume maior de investimentos, as empresas querem e precisam se expor mais ao mercado consumidor e investidor interno e externo. Ao todo, 26% consideram a pouca visibilidade de seus negócios no mercado um dos principais desafios para atrair capital. A falta de investidores e as turbulências do ambiente econômico e político nacional vêm logo em seguida na lista.

Obstáculos
A pesquisa também levantou alguns dos principais entraves das fintechs para potencializar ainda mais seus lucros. Metade das fintechs que participaram aponta que atrair profissionais qualificados é o principal obstáculo, seguido por alcançar escala necessária para operações (apontada como problema por 42% das empresas), conseguir visibilidade (34%) e obtenção de investimento (29%).

Uma em cada quatro fintechs pesquisadas cita dificuldades para cumprir as exigências do ambiente regulatório como uma barreira ao crescimento. A complexidade da legislação, principalmente a tributária, e a insegurança jurídica que ela gera afastam investidores e são uma barreira de entrada importante para novos empreendimentos.

"Levando em conta que conseguir profissionais qualificados é uma dificuldade de praticamente todas as áreas, a falta de visibilidade é um problema peculiar das fintechs, já que uma grande fatia da população ainda não conhece seus principais serviços. Isso explica por que este setor ainda tem um impacto limitado na economia e abaixo do potencial. O foco das fintechs deve ser para que os consumidores conheçam e comprem seus serviços", afirma Rodrigo Soeiro, presidente da ABFintechs.

Há ainda a necessidade de se reinventar cada vez mais na área tecnológica. Ferramentas que eram sensação no passado se tornam commodities hoje e são dominadas pelas fintechs, como serviços de nuvem e mobile. A pesquisa mostrou que 19% das empresas do setor pretendem dominar no futuro a Inteligência Artificial, enquanto 16% querem o mesmo com Blockchain e 13% com Data Analytics.

Mercado
A concentração de serviços nas mãos de poucas instituições financeiras, o spread bancário elevado, a expectativa de normas regulatórias que estimulem maior competição e o perfil diferenciado dos empreendedores fazem do Brasil especialmente atraente para fintechs que ofereçam soluções inovadoras e investidores que queiram apoiar esta disrupção.

Com seu modelo digital e acesso simplificado, aliado ao baixo custo de operação, essas empresas estão em uma posição vantajosa para promover a inclusão da grande massa de pessoas que vive à margem do sistema financeiro ou que está insatisfeita com as instituições tradicionais.

A pesquisa mostra que, no Brasil, apenas 17% das fintechs participantes atendem unicamente pessoas físicas (B2C). A esmagadora maioria dos participantes do estudo mira algum nicho corporativo que não é bem atendido pelos grandes bancos e seguradoras e tem como clientes também as próprias instituições financeiras.

Com soluções inovadoras de pagamentos, empréstimos e câmbio, entre outros produtos, as fintechs atraem sobretudo pequenas e médias empresas com uma experiência diferenciada de serviço. Mas elas também chegam para dar conta de um problema que aflige as instituições financeiras – a tecnologia antiquada dos legados. Com sua aposta no desenvolvimento aberto e em soluções Software-as-a-Service (SaaS), elas facilitam a integração de sistemas, racionalizam capacidades operacionais e avançam em direção à distribuição digital/móvel.

Como um indicador da juventude desse mercado,46% das fintechs participantes da pesquisa nasceram após 2016 e 51% estão em início de operação, enquanto 8% estão na fase de idealização ou validando um produto viável mínimo e, por isso, ainda não têm clientes. Cerca de dois terços das empresas faturaram menos de R$ 1 milhão em 2017 ou não tiveram faturamento.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.