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Cristina de Luca

Que tal ter o seu próprio algoritmo? Um gêmeo digital pessoal

Cristina De Luca

18/09/2018 21h50

Algoritmo. Eis um chavão que ouvimos com frequência hoje em dia. Mas o consumidor médio entende o impacto que os algoritmos têm em sua vida? Arrisco afirmar que não. O que dirá  então compreender a mais nova proposta da Forrester: a de ter o seu próprio algoritmo para interagir com organizações e empresas na era Digital.

Hoje, os consumidores desfrutam da ilusão de escolha ilimitada de produtos, serviços e conteúdo. Mas quase sempre há um algoritmo por trás da cortina, constantemente refinando e definindo o que é apresentado a eles. Infelizmente, muitas empresas perderam a consideração pelo ser humano em meio à coleta e otimização incessante de dados e de seus algoritmos, o que tem levado a resultados desastrosos. Está aí o escândalo com a Cambridge Analytic para provar.

"Os algoritmos que as organizações usam hoje não levam em conta os objetivos individuais,  apenas os das próprias companhias que os criam, gerando resultados prejudiciais às pessoas e à sociedade", sustenta a Forrester.

Se nada for feito, gostemos ou não, continuaremos rumando em direção ao algopocalypse.

Não por acaso, o ano de 2018 pode entrar para a história como aquele que mudou para sempre a paisagem da privacidade, inaugurando uma onda de novos direitos do consumidor e novas responsabilidades para aqueles que capturas, controlam e processam dados. Muitos governos, têm aprovado regulamentações sobre o assunto. Mas será que eles são o suficiente para proteger os consumidores, e dar conta de todas as questões técnicas e éticas envolvidas no uso dos algoritmos ao nosso redor, orientando decisões de negócios, políticas sociais e escolhas de vida, mediando quase tudo o que vemos e compramos?

A resposta?

"É hora de ter um algoritmo de propriedade do consumidor, otimizado para suas preferências e objetivos", sustenta a Forrester.

No estudo "The Algorithm Of You: Meet Your Personal Digital Twin", Fatemeh Khatibloo, analista da Forrester, apresenta o conceito do Personal Digital Twin (PDT), definido por ela como "um algoritmo de propriedade de um indivíduo, otimizado para seus objetivos pessoais".

"Os gêmeos digitais pessoais (PDT) serão nossos proxies digitais e nos salvarão do algopocalypse iminente", diz ela.

Segundo  Khatibloo, os PDTs funcionarão como um algoritmo que filtra conteúdo contraproducente para o indivíduo e identifica oportunidades com base em seus interesses, funcionando como uma espécie de proxy digital, aprendendo o que esse indivíduo valoriza, o que prefere e como toma decisões. Um algoritmo pessoal que poderá ser otimizado para hiper personalização ou serendipidade e, ao fazê-lo, gerar benefícios também para as organizações com as quais esse indivíduo interagir enquanto consumidor e cliente.

Essas organizações, por sua vez, poderão capturar o nível certo de obsessão do cliente; reduzir o desperdício de gastos de marketing; otimizar o valor da vida útil do cliente; proteger suas marcas de gastos excessivos com a proteção da privacidade dos clientes e com erros de segurança; e construir relacionamentos com clientes que realmente tenham interesse de se relacionar com elas.

"Os profissionais de marketing B2C precisam se preparar desde já para esse novo público-alvo: o personal digital twin", vaticina Khatibloo.

Sua empresa estaria disposta a inovar a partir dessa ideia?

Então, tome nota: os  PDTs estarão em debate nos próximos fóruns de privacidade e segurança da Forrester, que acontecerão em Washington nos dias 25 e 26 de setembro e em Londres nos dias 9 e 10 de outubro.

Vale lembrar que, hoje, a maioria das empresas segue tentando gerar valor a partir dos dados que captura, armazena e trata com o objetivo de obter insights usados para oferecer melhores experiências aos clientes, melhorar suas operações e, em última instância, criar diferenciação competitiva.

Dados são hoje uma moeda e uma vulnerabilidade para os negócios. Na opinião da Forrester, dar maior controle aos proprietários dos dados (os consumidores), através dos PDTs, pode aumentar o valor dessa moeda e reduzir as vulnerabilidades.

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O que são gêmeos digitais?
O conceito de gêmeo digital (digital twin) foi criado em 2003 pelo Dr. Michael Grieves, da Universidade de Michigan. Em linhas gerais, é definido como uma cópia virtual de um processo, um sistema ou um objeto real.

Representa um salto significativo na forma como empresas podem desenvolver, avaliar e aprimorar os seus produtos se serviços.

É composto de três elementos: um gêmeo físico no mundo real, um gêmeo digital propriamente dito no espaço virtual,  e a interconectividade, que permite que os dois compartilhem informações. Todos os envolvidos em uma cadeia produtiva têm acesso ao mesmo gêmeo digital sempre atualizado, em tempo real, em qualquer lugar do mundo, garantindo uma colaboração eficiente.

Os gêmeos digitais podem ser usados para executar simulações e examinar os gêmeos operacionais, com a finalidade de monitorar processos e procurar falhas em potencial. Por meio de um modelo virtual de um objeto físico, projetistas, engenheiros, entre outros profissionais, conseguem dimensionar com exatidão como será o resultado final de um projeto e todo o seu ciclo de vida, a partir de uma espécie de simulação.

Assim, o gêmeo digital ajuda a aumentar a eficiência e a lidar antecipadamente com problemas, de modo a corrigi-los antes que ocorram,  além de fomentar a inovação, desenvolver novas ofertas.  Sua aplicabilidade é bastante ampla, mas os casos mais conhecidos estão na Indústria 4.0 ( a partir da Internet das Coisas e do Machine Learning) e no varejo (para determinar a insatisfação e a satisfação dos clientes) .  A partir da junção de dados coletados de redes sociais, interações online, históricos de navegação e pesquisa, os lojistas conseguem criar um gêmeo digital do seu consumidor.

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E os algoritmos?
Em uma definição simplista,  os algoritmos são responsáveis por todo o trabalho. São eles que controlam o funcionamento interno de todos os sistemas. Qualquer programa de computador – do seu navegador aos jogos mais complexos –  é uma grande pilha de algoritmos sendo executados em alta velocidade.

Podem ser simples (por exemplo,  uma receita de bolo, ou instruções para ir do ponto A ao ponto B em um mapa) ou extremamente complexos (combinações e arranjos matemáticos para definir probabilidades em um jogo de xadrez).

Funcionam como sequências de passos que resolvem problemas. Para construí-los, por exemplo, é preciso primeiro delimitar o problema a ser resolvido. Por exemplo: ganhar uma partida de xadrez.

Depois, analisar e atualizar uma sequência de passos necessária para resolvê-lo.  O Deep Blue, sistema da IBM que venceu o mestre Kasparov, era capaz de analisar aproximadamente 200 milhões de posições por segundo antes de decidir o próximo movimento.

Por fim, transcrever esses passos em código (uma linguagem que o computador).

De um modo geral, algoritmos liberam os seres humanos de tarefas repetitivas e mediam as experiências com o mundo ao redor. Os mais famosos hoje são: 

–  Busca do Google (PageRank) –  É responsável por localizar o que é mais relevante com base em mais de 200 fatores de ranqueamento (originalidade, qualidade, contexto, uso de palavras-chave, etc)

Feed de notícias do Facebook –  Se concentra em interações significativas, com maior ênfase em posts de familiares e amigos que gerem conversas, para exibir conteúdos compartilhados na rede

Feed do Twitter – Considera basicamente a hora da postagem e a relevância do assunto para o usuários (estimada pelo volume de interações com conteúdos semelhantes) para exibir o conteúdo

A compressão de áudio e vídeo – Para reduzir o peso dos arquivos para que trafeguem e sejam processados o mais rápido possível

A combinação de parceiros ideais em sites e apps de relacionamento, como o Tinder-  Se concentra em encontrar correspondências entre as preferências declaradas ao ingressar no serviço para encontrar o parceiro ideal.

– Os de recomendação dos sites de e-commerce e dos serviços de streaming de áudio e vídeo  (como Amazon, Netflix e Spotify) – combinam os dados de navegação e com outros dados aos quais tenham acesso para traçar um perfil dinâmico para cada pessoa e inferir seus interesses

– Manipulação do mercado financeiro – acionam bots que lançam falsas ordens para compra ou venda ações na Bolsa. Uma prática conhecida por spoofing. Geralmente o tamanho da ordem de compra ou de venda é muito grande, justamente para chamar a atenção dos demais investidores….

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.