Limite de mensagens simultâneas do WhatsApp não é tão ruim assim
Pare e pense… Apesar de polêmica, a recente queda do limite de envio de mensagens simultâneas do WhatsApp, de 20 para 5, pode não ser tão ruim assim…
Se você precisa enviar algo para mais de 20 pessoas, pode criar o hábito de reuni-las em diversos grupos temáticos. Agora, se você é um pequeno empresário que usa o WhatsApp como ferramenta de trabalho, pode passar a usar o WhatsApp for Business, que conta com uma série de recursos específicos para a gestão da comunicação com clientes. Nem tudo no WhatsApp for Business é cobrado, ainda. E a plataforma tem todo o interesse do mundo de tornar o serviço profissional mais conhecido.
Portanto, antes mesmo de ser uma medida que dificulta a propagação de fake news, a medida serve ao propósito da plataforma de evitar que o mensageiro seja usado como uma ferramenta de broadcast (para envio massivo de informações de um para muitos).
Ah, isso fere o princípio da livre circulação de informação, já que muitas ONGs, em todo o mundo, usam o WhatsApp para propagar informações de interesse público? Sim. Vale lembrar que a mudança promovida pelo WhatsApp representa a expansão de um teste, que começou na Índia em 2018, para reduzir índices de violência. Ontem, em um debate promovido pelo ITS-Rio via Facebook Live, Chinmaya Arun, pesquisadora da Índia, falou sobre os efeitos da iniciativa no país. Segundo ela, os problemas decorrentes do mau uso da ferramenta não acabaram, mas muitos movimentos sociais se sentiram tolhidos no seu direito de propagação de informações. Portanto, é contrária à liberdade de expressão. Bom…
Essas organizações não estão impedidas de usar a plataforma. Mas precisarão se organizar mais para isso. O esforço para atingir o mesmo número de pessoas que atingiam até ontem será maior. Mas elas conseguirão fazê-lo. Aliás, exatamente por poder ser burlada, muitos analistas têm alertado que a recente limitação do WhatsApp dificulta, mas não impede por completo a propagação das fakes news na plataforma. Apenas reduz a propagação do ruído.
É exatamente o que o WhatsApp quer. Limitar a disseminação rápida de informações. A conta é simples: o envio simultâneo da mesma mensagem para 20 grupos com 256 pessoas, entregará a mensagem para 5120 pessoas; para 5 grupos, esse volume cai para 1280 pessoas. Para o WhatsApp, o limite significa menos instâncias para facilitar a disseminação de conteúdo inflamatório, que a empresa passou a reconhecer como um problema sério de segurança. Atinge, com isso, os maus e os bons, indiscriminadamente. Ah, isso é ruim… Talvez.
No fundo, no fundo, o que está em jogo aqui é o velho dilema sobre o quanto estamos dispostos a abrir mão (considerando benefícios e direitos) em prol da segurança e da privacidade. E, principalmente, como queremos que isso aconteça.
"O WhatsApp avaliou cuidadosamente este teste e ouviu o feedback dos usuários durante um período de seis meses", disse a assessoria de comunicação do serviço em um comunicado nessa segunda-feira. "O limite de encaminhamento reduziu significativamente as mensagens encaminhadas em todo o mundo". Mas parece que isso não preocupa a plataforma.
Vale lembrar que a medida acontece às vésperas das eleições na Nigéria (16 de fevereiro), Indonésia (8 de abril) e Índia (entre abril e maio), ressalta Thiago Tavares, presidente da ONG Safernet, que em outubro do ano passado, ao fim do primeiro turno da eleição presidencial no Brasil, chegou a enviar ao mensageiro, como membro do conselho do TSE de combate às fake news, recomendações de medidas para coibir a circulação de desinformações que incluíam a redução do limite de envio simultâneos de 20 para 5.
Outro aspecto importante, segundo Thiago Tavares, é o fato da mudança ter sido implementada globalmente, o que elimina a possibilidade de utilização de números de celulares de outros países para contornar o limite de encaminhamentos (como aconteceu no Brasil).
"Acredito que as mudanças na plataforma não vão parar por aí. Outras sugestões que fizemos continuam sob avaliação; é possível que outros anúncios sejam feitos ao longo do ano", disse o presidente da Safernet.
Para muitos analistas (e tenho que dizer que concordo com eles) o que o WhatsApp pode fazer de bom é ajudar a identificar o ecossistema das fake news.
No mesmo debate promovido pelo ITS-Rio, via Facebook Live, seu diretor Ronaldo Lemos ressaltou que a implementação de medidas para dificultar o envio de mensagens virais faz parte do movimento iniciado pela gigantes da tecnologia lá atrás, após das denúncias de espionagem de Edward Snowden, de tornar seus produtos mais seguros para os usuários.
"Primeiro a gente viu a adaptação das empresas para melhorar a privacidade dos usuários, implementando a criptografia ponta-a-ponta. A Apple transformou o iPhone em uma espécie de bunker de informação [ao se recusar a quebrar a criptografia do aparelho a pedido do FBI]. Agora, o que a gente está tendo é uma adaptação das empresas para construir produtos não inflamatórios", disse. Significa que as empresas estão tentando dificultar ao máximo a propagação do conteúdo gerado por corporações com interesses econômicos e políticos, e não por pessoas.
Na opinião de Ronaldo Lemos veremos cada vez mais as empresas de tecnologia modificando a arquitetura de seus produtos para cortar a possibilidade de inflamação através das suas redes.
A decisão do WhatsApp é só o início…
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