Topo

Cristina de Luca

As Big 4 da Tecnologia estão em pé de guerra, deixando o mercado em alerta

Cristina De Luca

04/02/2019 11h47

Na semana passada, a Apple cassou temporariamente as licenças para o desenvolvimento de aplicações corporativas do Facebook e do Google. O motivo? Denúncias feitas pelo TechCrunch de que a rede social e o buscador estavam abusando da licença corporativa, estendendo-a a aplicativos de pesquisa de mercado distribuídos para o público em geral. Durante esse breve período, os funcionários do Facebook e do Google deixaram de ter acesso a apps de uso interno, e a testes de futuras versões de seus aplicativos de uso geral, disponíveis via Apple Store.

O que, aparentemente, seria um problema doméstico entre 3 das 4 gigantes da tecnologia pode significar algo bem maior, como bem lembra Jessica Lessin na newsletter do serviço The Information.

A guerra entre as gigantes pode ter desdobramentos inesperados, que já começam a preocupar o mercado. No início de janeiro eu já havia apontado aqui os sinais evidentes, para quem acompanhou a CES 2019, de que as batalhas entre as gigantes seriam intensas este ano… E é simples entender o porquê.

Na última década, os grandes gigantes da tecnologia permaneceram em suas próprias rotas. Cada uma delas liderando o seu próprio segmento de mercado: e-commerce, search, social e mobile. Mas vieram a nuvem, o streaming, os mensageiros instantâneos, a Inteligência Artificial, os assistentes digitais… e as gigantes começaram a invadir o território umas das outras.

Para muitos analistas, como Jessica, o episódio da semana passada é um indício de que o CEO da Apple, Tim Cook, aproveitará todas as chances que tiver para dar uma estocada no Google e no Facebook, principalmente,  em relação à proteção de dados e privacidade.

De fato, no momento, poucos usuários se sentem confortáveis com o Facebook ou o Google a esse respeito. Mas muitos também não estão satisfeitos com a Apple. Mesmo que a Apple venda hardware e afirme não usar os dados de seus usuários para criar um perfil ou oferecer anúncios – como fazem Amazon Facebook e Google -, alguns já começam a se sentir desconfortáveis ​​com o poder que ela tem sobre os clientes e as empresas que usam seus dispositivos. 

Mais  uma vez, o embate da semana passada é exemplar: se você deseja desenvolver aplicativos da Apple, você deve obedecer às suas regras – e a Apple expressamente faz as empresas concordarem com seus termos.

Uma regra importante é que a Apple não permite que os desenvolvedores de aplicativos ignorem a App Store, onde cada aplicativo é verificado para garantir que esteja o mais seguro possível. No entanto, ele concede exceções para desenvolvedores corporativos, como para empresas que desejam criar aplicativos que são usados ​​apenas internamente pelos funcionários. Facebook e Google, neste caso, se inscreveram para desenvolvedores corporativos e concordaram com os termos de desenvolvedor da Apple.

Cada licença corporativa emitida pela Apple concede às empresas permissão para distribuir aplicativos desenvolvidos internamente – incluindo versões de pré-lançamento dos aplicativos que eles criam, para fins de teste. Mas essa licença não permite que os apps sob ela sejam usados  ​​por consumidores comuns, já que eles precisam baixar aplicativos através da App Store.

Depois de pegar o Facebook e o Google violando a licença, a Apple foi bem clara: "Qualquer desenvolvedor usando seus certificados corporativos para distribuir aplicativos para os consumidores terá seus certificados revogados, que é o que fizemos neste caso para proteger nossos usuários e seus dados."

Coincidência?
As revelações do TechCrunch sobre o "app espião" da Facebook e o app de pesquisa do Google acontecem dias depois das falas incisivas de Tim Cook e Satya Nadella no encontro do Fórum Econômico Mundial sobre a necessidade de uma lei federal de privacidade nos Estados Unidos, a exemplo do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados da União europeia (GDPR) e da nossa Lei Geral de Proteção de dados (LGPD); na mesma semana dos informes de resultado do último trimestre de 2018; e dias antes do aniversário de 15 anos do Facebook, comemorado hoje. O que, certamente, fez com que ganhassem uma enorme repercussão. especialmente nos Estados Unidos e na Europa, principalmente.

O Facebook pode enfrentar desdobramentos em ambos os mercados. Dois senadores norte-americanos, Mark Warner e Richard Blumenthal, já entraram com uma ação acusando o Facebook de "escutas telefônicas em adolescentes". A Federal Trade Commission também pode investigar se Blumenthal conseguir o que quer. Além disso, associações civis já estudam se o app violava ou não o GDPR, no caso de estar sendo usado também por adolescentes europeus.

A rápida reação da Apple pode ter sido motivada pela pressão de fazer o discurso casar com a prática, em uma semana na qual já vinha tendo dificuldades em convencer os investidores a pensar na empresa como um negócio de serviços e hardware porque, bem, o negócio de hardware está caindo.

E o Google entrou de gaiata no navio, uma vez que governa os serviços de dados na Internet junto com o Google e vem vendo a plataforma Android reinar no mercado de smartphone, antes dominado pela Apple.

Além disso, os balanços dessa semana mostram Amazon e Facebook cada vez mais fortes como empresas de mídia, mercado onde a receita da Apple é marginal. A Amazon é agora uma empresa de publicidade de US $ 10 bilhões! O Facebook ficou US$ 55 bilhões desse mercado em 2018. Há quem diga que a capacidade da rede social demanter ganhos positivos no meio de escândalos intermináveis é apenas mais uma prova de seu poder, e clame por uma regulação que impeça a empresa de Zuckerber de integrar ainda mais os serviços de sua propriedade. E o Google? Bom, só saberemos ao certo hoje, quando saem os resultados da Alphabet. Seus resultados do trimestre anterior superaram as estimativas de receita e lucro por ação da Wall Street. Seguirão assim?

"O Google está relativamente quieto publicamente, mas trabalha furiosamente para derrubar qualquer parte dos negócios de nuvem da Microsoft e da Amazon. E o CEO do Google, Sundar Pichai, está pensando muito sobre a Amazon e seu crescimento em publicidade", afirma Jessica, que também tem estranhado o posicionamento da Microsoft em todo esse cenário.

"Ironicamente, para quem acompanha a história da tecnologia, a Microsoft está em grande parte assistindo a guerra entre as f=gigantes. Pelo menos é o que o CEO Satya Nadella gostaria que você pensasse, quando diz: 'Às vezes acho um pouco estranho as empresas de tecnologia se queixarem umas das outras. Pode ser divertido. Todos nós temos um grande interesse nisso … Somos nós que conversamos entre nós.' Ainda assim, a empresa não está se esquivando de iniciativas que minam seus rivais ao pressionar por uma legislação em torno do reconhecimento facial", escreve ela.

Para onde tudo vai? Na opinião de Jessica, provavelmente para os tribunais. "Se há uma coisa que um promotor antitruste gosta, é um concorrente tagarela pronto para derramar sujeira sobre seus inimigos. Isso deve dar aos CEOs uma pausa para escolher suas batalhas com cuidado."

Eu já me preocupo mais com o mercado acionário… Nos últimos meses de 2018, a gigantes da tecnologia tiveram papel de destaque na gangorra de Wall Street. Especialmente por conta da Apple.

Portanto, os próximos meses prometem…

O modelo de negócios mais bem-sucedido atualmente – em termos de valor para o cliente, taxas de crescimento de receita e avaliação de mercado – é o modelo de negócios da plataforma digital. Setenta por cento das 10 empresas mais valiosas do mundo (Amazon, Apple, etc) e 70% dos unicórnios  operam esse modelo, mas menos de 2% de outras empresas fazem. Prevê-se que os modelos de negócios de plataformas digitais movimente até 30% da atividade econômica global até 2030, mas menos de 5% das empresas tradicionais têm uma estratégia de plataforma coerente que é integrada à sua estratégia corporativa. Portanto, prestar atenção na briga das gigantes é obrigatório para entender o futuro da economia digital.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.