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Cristina de Luca

O Messenger renasce como plano B do Facebook contra o Snapchat

Cristina De Luca

03/05/2019 13h44

"Se fôssemos reconstruir a rede social hoje, faríamos isso por meio de mensagens", disse Asha Sharma, chefe de Produtos de Consumo do Messenger no palco da F8, a conferência de desenvolvedores do Facebook.

Pois é exatamente isso que Mark Zuckerberg está tentando fazer, na opinião do analista de mercado Ben Thompson.

Vamos por partes. O engajamento dos usuários no aplicativo principal do Facebook começou a declinar, anos atrás, por causa do SnapChat e depois do Instagram. Esse movimento foi acelerado pela chegada do Instagram Stories. Então, o Facebook tentou consertar esse declínio com um foco renovado em amigos e família. Mas errou o tiro e a queda no engajamento continuou a aumentar… Estão aí boas razões, segundo  Thompson, para as mudanças que Mark Zuckerberg começa a promover agora na rede social. Somadas à pressão regulatória por maior privacidade, elas formam uma tempestade perfeita.

A visão de Zuckerberg para um novo Facebook passa pelo redesenho do aplicativo principal da rede social e seu site para desktops, que enfatizarão eventos e grupos, às custas do sacrifício do News Feed. Mas passa também pela reconstrução do Messenger, do zero.

Para Thompson, esses dois movimentos, conjugados,  indicam que Zuckerberg teria desistido de tentar transformar o Facebook em um destino para amigos e familiares, e começado a reconstruir o Messenger como uma rede social completa, com seu próprio feed, enquadrando-o como um oásis de privacidade para amigos e familiares, sem mudar nada sobre a experiência central do Facebook e a máquina publicitária.

"Para ser claro, não espero que esta nova rede social centrada no Messenger substitua o SnapChat,  mas, assim como o Stories, o objetivo é replicar o SnapChat para todas as pessoas que não usam o SnapChat e deixam o Facebook ser o telefone e a agenda telefônica, ou seja, a praça pública e a sala de estar", explica Thompson.

Resta saber se funcionará, mas certamente é uma estratégia que está muito mais consciente das principais forças e fraquezas do Facebook do que qualquer outra coisa que tenha sido implementada nas últimas F8.

Sem precisar olhar para fora, baseado apenas nos indicadores que domina, Mark Zuckerberg já teria percebido que as publicações nos feeds diminuíram, enquanto as publicações nos grupos aumentaram e o compartilhamento de fotos e vídeos com amigos migrou para Instagram e o WhatsApp, que continuam a criar novos produtos para apoiar essa atividade. Um levantamento da Socialbakers divulgado esta semana mostra que o Instagram já tem três vezes mais interações que o Facebook.

Na opinião  do jornalista Casey Newton, do The Verge, a pergunta que o Zuckerberg parece estar tentando responder é: em um mundo onde as pessoas estão deixando de postar no News Feed,  para onde elas devem ir? E o Messenger parece ser a resposta, por enquanto.

Não por acaso, as mudanças no Messenger ocuparam boa uma parte das falas no primeiro dia da F8. Depois de um redesenho ter conseguido simplificá-lo, o Facebook pretende transformá-lo agora em um mensageiro mais leve (menos de 30 Mbytes), de carregamento mais rápido. E levá-lo para o desktop, finalmente, para promover um uso mais "pesado", por assim dizer. Será possível baixar o programa no seu computador – tanto no Windows como no MacOS – e fazer chamadas de vídeos em grupo, colaborar em projetos ou trabalhar em múltiplas tarefas enquanto conversa.

"Estamos construindo uma rede social em torno de mensagens – e não o contrário", disse Sharma. "Usando mensagens, você se comunica com poucos amigos. Se você pudesse construir experiências sobre essas conversas, que te ajudassem a compartilhar mais e a aumentar a qualidade do tempo de integração com seus amigos, isso seria incrível".

Hoje o Messenger tem uma guia central de "pessoas" que Sharma descreve como uma "lista telefônica social". Quando o novo Messenger chegar, essa guia será substituída por conteúdo compartilhado por amigos próximos. "Um espaço onde será possível compartilhar com pequenos grupos e as pessoas que mais te interessam", disse Sharna a Casey Newton.

Esse Messenger completamente remodelado começará a ser liberado para o público até o fim deste ano. Se conseguirá atrair a atenção das pessoas, só o tempo dirá. Hoje, analistas de mercado dizem que, apesar da liderança do Messenger em tamanho de público, os usuários do Snapchat abrem o app com muito mais frequência e passam mais tempo lá do que em outros serviços semelhantes.

O Messenger é de longe o mensageiro de smartphones mais popular nos Estados Unidos, com o Snapchat em segundo lugar, com cerca de metade do total, enquanto o WhatsApp ocupa o terceiro lugar com apenas 22,25 milhões de usuários. Globalmente, no entanto, a história é bem diferente: o WhatsApp ocupa o primeiro lugar com 1,6 bilhão de usuários ativos mensais em abril de 2019, contra o Messenger em segundo lugar, com 1,3 bilhão no mesmo período.

Aumentar a funcionalidade do Messenger é a melhor aposta do Facebook para manter os usuários dos EUA engajados, e isso pode ser ainda mais importante considerando os planos futuros do Facebook.

Na opinião dos analistas da The Economisto Facebook está tentando construir um serviço análogo ao WeChat, da chinesa Tencent.  "Há uma série de diferenças fundamentais entre os dois produtos, mas as metas finais parecem marcadamente semelhantes: redes singulares, para todos os fins, que podem ser aproveitadas para atender todos os tipos de serviços, desde pagamentos móveis a jogos, passando por linhas de contato diretas. empresas", comentam 

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.