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Cristina de Luca

Twitter lança guia de alfabetização midiática em português

Cristina De Luca

10/10/2019 09h35

Credito: Divulgação

Twitter x Fake news

O Twitter tem o firme compromisso de ser um espaço público, onde até vozes dissonantes podem ser ouvidas e imediatamente contestadas pela própria comunidade de usuários. Seu objetivo é servir à conversa pública. O que tem aumentado a sua responsabilidade com uma série de questões, como a identificação e a remoção de conteúdos impróprios e o combate às fake news.

Conciliar o compromisso de ser um espaço público com o desejo (ou obrigação?) de ser um local saudável para conversas livres de assédio e outras violações, não é simples. Ao longo do tempo, a plataforma tem tomado medidas polêmicas, como evitar agir decisivamente ao banir certos tipos de comportamento e permitir outros, ou permitir que os usuários ocultem conteúdo que pode ser ofensivo. Recentemente, por exemplo, o Twitter passou a deixar que os usuários possam ocultar respostas aos seus tweets. Ao fazer isso, a plataforma alega dar mais liberdade aos usuários, enquanto os críticos argumentam que, na prática, ela transfere para eles parte do ônus de manter o ambiente saudável.

Geralmente a remoção de conteúdos e de contas resulta de denúncias feitas pelos usuários e são analisadas com base nos termos de uso do serviço. As regras do Twitter proíbem violência, terrorismo e várias outras categorias de conteúdo, e seus moderadores devem excluir esse conteúdo e até banir usuários. De acordo com o seu relatório de transparência mais recente, cerca de 10,8 milhões de contas foram denunciadas entre julho e dezembro de 2018; e a empresa tomou medidas contra 612.563 dessas contas.

Só no primeiro trimestre deste ano, segundo o próprio Twitter100 mil contas foram suspensas por terem criado novos perfis depois de uma suspensão – um crescimento de 45% na comparação com o mesmo período do ano passado. O número de contas abusivas suspensas em até 24 horas após a denúncia foi três vezes maior em comparação com o ano passado. E o volume de informações privadas removidas foi 2,5 vezes maior, devido à implementação de um processo de denúncia mais simples.

Dia atrás, bati um longo papo com Fernando Gallo, gerente de políticas públicas do Twitter Brasil, no qual abordamos muitas dessas questões, à luz da mais recente iniciativa do microblog para ajudar seus usuários a desenvolverem as habilidades necessárias para analisar a veracidade dos conteúdos e informações consumidas e compartilhadas online: o guia "Alfabetização e segurança digital – Melhores práticas no uso do Twitter", criado em parceria com a Organização dos Estados Americanos (OEA), e que acaba de ganhar uma versão em português. O que disse o executivo?

Vamos lá:

Sobre o guia
"As habilidades de consumo de informação e de uso das plataformas onde essas informações estão sendo divulgadas caminham juntas", comentou Gallo. "Então a gente também explica o funcionamento do Twitter no guia, e das ferramentas que os usuários têm à disposição, seja para aumentar a segurança deles na rede, seja para denunciar conteúdos. As pessoas vêm muito ao Twitter para se informar".

Sobre os esforços para manter a plataforma saudável
"Fenômenos complexos exigem abordagens complexas também", disse Gallo. "Nesse trabalho de manter uma conversa saudável a gente usa múltiplas abordagens. Isso vai desde ter um conjunto de regras que disciplinam o que é permitido ou não dentro da plataforma, e que pouca gente conhece, ferramentas para controlar melhor a experiência, a verificação da contas como fator de autenticidade de grupos relevantes para o debate público como funcionários de governos, jornalistas… Enfim, contribuir para dar mais contexto para as pessoas ao usarem a plataforma."

Sobre Identificação e remoção automatizadas de conteúdo impróprio
"A gente usa tecnologia para uma série de coisas", explica Gallo. "A gente tem usado cada vez mais tecnologia para priorizar a análise de denúncia dos usuários. No começo do ano passado, 100% do conteúdo que a gente sancionava por abuso era levado às equipes de análise por denúncias dos usuários. A gente dependia fundamentalmente de denúncias. No começo deste ano, que é o dado mais recente que dispomos, 38% dos conteúdos que foram sancionados por abuso foi levado às equipes por meio de tecnologia. A gente não precisou depender das denúncias dos usuários. A tecnologia já consegue identificar conteúdos potencialmente abusivos e encaminhar para análise".

Sobre  combate ao SPAM
Segundo Gallo, o Twitter ainda depende da equipe de curadores porque ainda não há uma tecnologia que possa identificar se um determinado conteúdo é realmente abusivo. Mas a tecnologia já consegue identificar robôs, a partir do comportamento técnico das contas. "Cada vez mais a gente tem procurado explicar o trabalho feito em relação às automações maliciosas no Twitter. A gente está combatendo com cada vez mais vigor as automações que se comportam como SPAM. Que tentam distribuir tweets em massa, ou curtir ou retuitar tweets em massa, praticar ações em massa agressivas dentro da plataforma".

Sobre Identificação de robôs
"Muitas vezes é 100% claro para gente quando uma conta é um robô", diz Gallo. "Nesses casos a gente vai lá e suspende automaticamente as contas. Mas nem sempre a gente tem certeza. Nesses casos a gente impõe um desafio para conta. A obriga a provar que tem um humano no controle dela, seja digitando um CAPTCHA, um núnero de celular… O desafio vai variando. Se a conta passa no desafio ela volta a ficar ativa e se não passa, é suspensa.A gente hoje tem feito isso de forma proativa e agressivamente."

"Muitas vezes as pessoas acham que por terem foto padrão no perfil, nomes estranhos com números e caracteres especiais, essas contas são robôs. Nem sempre. Ferramentas de mercado e pesquisadores também acabam identificando essas contas como de alta probabilidade de serem robôs e nem sempre são", explica Gallo.

Sobre os robôs do bem
"Nem toda robô, nem toda automação é ruim para a experiência dos usuários no Twitter, e a gente está trabalhando para preservar os que são positivos", comenta Gallo. "Vou te dar um exemplo: robôs com caráter cívico. O robô Rosie, da conta @RosieDaSerenata, se conecta com o Portal da Transparência da Câmara e todas as vezes que que ele identifica um gasto que pelos critérios que ele usa ele entende que é suspeito ele tuíta dizendo que encontrou um gasto suspeito de tal deputado ou deputada e pede ajuda para checar, incluindo o link do recibo".

E o guia, fala sobre o quê?


Com 34 páginas, o guia elaborado em conjunta com a OEA incorpora conteúdo sobre alfabetização digital, medidas para proteger os usuários nas redes sociais, maneiras de gerenciar a distribuição e o consumo de informações online e, finalmente, recomendações sobre regras e controle da experiência dos usuários na plataforma.

Estamos falando, por exemplo, de dicas sobre:

  • Identificação de conteúdo
    "No Twitter você pode comprovar informações e conferir a exatidão delas em um instante. Como se trata de uma plataforma aberta e pública, você pode interagir com outras pessoas ou fazer uma busca rápida de uma hashtag ou das palavras-chave que te permitem avaliar a veracidade das informações que você está recebendo."
  • Identificação da fonte
    Para saber se uma pessoa ou uma organização é uma fonte confiável "vá ao perfil dela e revise a biografia, a localização, a antiguidade da conta, os tweets anteriores e as interações que tem gerado. É uma conta verificada? Quem essa pessoa segue e quem segue essa pessoa? Qual o site que aparece no perfil? Caso o perfil gere dúvidas, vá ao site. (…) Preste atenção ao URL do site web. Organizações, instituições, e meios de comunicação, geralmente, têm domínios padronizados com os quais você, provavelmente, esteja familiarizado.  (…) Leia a seção 'Sobre nós'. A maioria dos sites tem muitas informações sobre a organização, sua administração, missão e objetivos. Além disso, você deve poder encontrar mais informações sobre a organização e seus líderes em outros sites".
  • Compartilhamento de informações
    Antes de sair retuitando a informação faça uma análise do conteúdo.  "Certifique-se de que está vendo a data do(s) tweet(s) para saber se o conteúdo é atual ou se a data é relevante para as informações que estão sendo compartilhadas"""Estão sendo utilizadas hashtag relacionadas com o tema? Seja cuidadoso caso o tweet esteja utilizando hashtag que seja um Assunto do Momento sem que esteja relacionado com as informações que estejam sendo compartilhadas, já que esta é uma estratégia enganosa para chamar a atenção das pessoas. ""Pergunte-se "qual parece ser a motivação para compartilhar as informações".

Problemas com privacidade

Ao mesmo tempo em que luta para fomentar boas conversas na rede,  o Twitter também precisa lidar com batalhas difíceis no campo da proteção de dados.

Nesta quarta-feira, 9 de outubro, o microblog admitiu que um acidente de segurança permitiu que informações pessoais de seus usuários, como e-mails e números de telefone, fossem cruzados com listas de contatos dos anunciantes, independentemente de esses usuários terem dado sua permissão para tal.

Os endereços de email e números de telefone em questão foram coletados para ajudar a proteger as contas dos usuários através da autenticação de dois fatores e outras medidas de segurança. Mas essas informações confidenciais  foram erroneamente alimentadas nos seus sistemas de publicidade "Tailored Audiences" e "Partner Audiences".

O Twitter disse não ter certeza de quantos usuários foram afetados. Mas garantiu que resolveu o problema que permitiu que isso acontecesse.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.