Topo

Cristina de Luca

Que tecnologia usaremos em 2020? Aquelas que respeitem a privacidade!

Cristina De Luca

12/01/2020 10h54

Na última semana, o mundo assistiu, encantado, a mais uma demonstração do que a criatividade humana é capaz durante a CES 2020, realizada em Las Vegas. Não sei quanto a vocês, mas a impressão que tive foi a de que faltaram produtos reais em Las Vegas, com preços e datas de lançamento. Talvez porque o 5G ainda demore a chegar e o 8K ainda careça de bons conteúdos.

Por outro lado, sobraram provas de conceitos de maravilhas tecnológicas que dificilmente veremos chegar aos mercados nos próximos 12 meses.  Os exemplos estavam por toda parte, chamando enorme atenção, como o  táxi voador elétrico da Uber/Hyundai, os avatares virtuais da Samsung, que prometem das aos chatbots uma aparência humana incrivelmente realista, graças aos avanços da computação gráfica, e até a tal batata conectada, na realidade uma crítica ao movimento "tudo inteligente".

Não concorda? OK. Permita-me mudar um pouco o modo de olhar…

É claro que, mesmo pobre em anúncios significativos e produtos prontos para comprar e usar, a CES continua sendo um dos mais importantes pontos de encontro da indústria de tecnologia de consumo. E palco para muitos temas e tendências que merecerão a nossa atenção em 2020.

Considerando tudo o que se viu e ouviu durante o show, este ano você provavelmente voltará a fazer compras em lojas físicas, graças à praticidade que a Internet das Coisas e a Inteligência Artificial aportarão para a automação comercial, inclusive para adquirir o que for mais adequado ao seu estilo de vida, e mais saudável, como sugere a DnaNudge.

Verá mais streaming de vídeos curtos produzidos especialmente para dispositivos móveis (o Quibi aposta todas as suas fichas aí, apoiado pela Disney, NBC e Warner). E terá que se esforçar para encaixá-los na sua jornada diária, já muito dividida entre os conteúdos efêmeros do Instagram, Snapchat e TikTok e a compulsão real para  "maratonar" séries oferecidas pela Netflix e a HBO. Ah, sim, o malabarismo deverá considerar também uma assinatura do Disney + e,ou da Apple TV +. Será que cabem na já disputadíssima parcela do orçamento dedicada ao seu entretenimento?

Certamente você conversará mais com o seu assistente de voz, em diferentes lugares, inclusive no carro, e para fazer de tudo um pouco. Também terá em seus ouvidos fones mais discretos e sem fio, com bateria de longa duração, ricos em funcionalidades, embora ainda não tão inteligentes como o movimento "hearable" sugeria na CES do ano passado.

Provavelmente sucumbirá à onda healthtech seamless e usará diversos dispositivos vestíveis para monitorar a saúde. Ou irá preferir substituí-los pelo uso de roupas íntimas conectadas repletas de sensores para acompanhar seus sinais vitais. Quem sabe  alguns dos muito produtos criados para curar a insônia, como o URGOnight, o Scanwatch, a pulseira Embr Wave e o  Timeshifter, projetado para exterminar o jet lag. Ou, permita-me a indiscrição, alguns dos brinquedinhos sexuais inteligentes que estrearam esse ano em Vegas.

Foto de Divulgação

Usará uma escova de dentes que sabe quando você está sem pasta ou onde suas gengivas doem. E, se tiver filhos pequenos, um serviço de assinatura que sabe a hora certa de repor o estoque de fraldas. Talvez uma TV vertical, ou uma lata de lixo inteligente…

Também será mais vigiado, por produtos e serviços que oferecem maior comodidade e melhor segurança em troca de alguma perda de privacidade. E até tope ter a casa guardada por um drone autônomo de proteção, em vez de um cachorro, ou deixar a máquina de lavar decidir o quanto de sabão você deve usar.

Enfim… ganhará e perderá dinheiro com seus dados pessoais. E terá ímpetos de adotar definitivamente o "minimalismo digital" e instalar o dispositivo Winston, para substituir o uso das complicadas VPNs e dificultar ou impossibilitar qualquer tipo de rastreamento por meio de eletroeletrônicos conectados.

Privacidade cresce e aparece

A boa notícia para paranóicos de plantão é que muitas das tecnologias em exibição na CES pareciam já ter uma abordagem melhor à privacidade do que aquelas apresentadas nos anos anteriores. Nesse aspecto, vários analistas comentaram que o CES 2020 mostrou caminhos para um futuro melhor, com as empresas mais conscientes sobre as pressões por uso correto de dados pessoais.

Muitas delas parecem já ter entendido que não basta acenar com inovações tecnológicas convenientes e desejáveis.  Sem um propósito, e muita transparência, seus produtos deixarão de ser atraentes aos olhos dos consumidores, por mais encantadores que sejam. Em pesquisa recente promovida pela Fortune para o Fórum Econômico Mundial, 80% dos entrevistados disseram ser mais leais às empresas com boa ética, enquanto 68% não comprariam ou usariam nada de empresas antiéticas. Para a maioria (73% dos entrevistados) a confiança nas empresas importa mais agora do que há um ano.

Como as empresas estão respondendo a essa tendência?

Tentando "provar que estão levando a privacidade a sério", disse à CNN Business Victoria Petrock, analista principal da empresa de pesquisa eMarketer. Chame de uma jogada defensiva. "Se não o fizerem, correm o risco de enfrentar uma regulamentação mais pesada em algum momento. Então preferem fazer parte da solução do que serem parte do problema", completou.

Foto Shutterstock

De fato, talvez em consequência do início da vigência da nova lei de proteção de dados da Califónia, o  Google aproveitou a CES para anunciar novos recursos de privacidade para o seu assistente de voz. O Facebook também anunciou uma nova versão de sua ferramenta "Privacy Checkup", com o objetivo de orientar os usuários pelas principais configurações de privacidade.

A Ring, empresa de segurança doméstica de propriedade da Amazon, anunciou uma atualização para seu aplicativo na segunda-feira que permite aos usuários optar por não receber pedidos da polícia local, depois das muitas críticas recebidas por suas parcerias com órgãos de segurança.

O Roybi, um robô de aparência alienígena que ensina idiomas para crianças e outras habilidades, tem uma câmera com reconhecimento facial que pode reconhecer se a criança estava animada ou triste depois de uma aula. Mas também um adesivo, bem visível, para que os pais possam bloquear o uso da câmera, se quiserem.

Até a Apple retornou à CES depois de 28 anos, desde que o ex-CEO John Sculley estreou o assistente digital pessoal de Newton em 1992. E do gigantesco outdoor, estrategicamente posicionado na entrada do principal pavilhão de exposições da CES do ano passado, anunciando a criação de suas próprias regras de privacidade. Este ano, sua diretora sênior de privacidade global, Jane Horvath, participou de um debate sobre privacidade ao lado de colegas do Facebook (Erin Egan) e Procter & Gamble (Susan Shook), além da comissária da Comissão Federal de Comércio, Rebecca Slaughter.

"Coletamos os dados para servir as pessoas. Para o consumidor da P&G, a confiança é fundamental. Diferentemente das empresas de tecnologia, nossos clientes podem facilmente mudar para outro produto, e abandonar a nossa marca para sempre", comentou Susan Shook, da P&G. Não por acaso, David Taylor, CEO da companhia, foi enfático ao ser entrevistado pela Forbes: "Queremos ter certeza de que somos transparentes em tudo o que fazemos e queremos que o consumidor decida".

"Mas acho que nunca podermos dizer que estamos fazendo o suficiente. Precisaremos nos esforçar sempre para descobrir como colocar o consumidor no controle de seus dados", provocou a diretora de privacidade da Apple.

É isso…

A Caregiver Smart Solutions, que fabrica produtos para os cuidadores rastrearem remotamente os idosos, decidiu suspender o uso de câmeras, declarando-as muito intrusivas. Um exemplo claro de que o ônus do controle da privacidade não deve ser apenas do consumidor. As empresas precisam assumir a responsabilidade de minimizar os dados que coletam, retêm, processam e compartilham.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.