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Cristina de Luca

O e-Sedex vai voltar, mais vantajoso e não somente para encomendas, diz gerente dos Correios

Cristina De Luca

28/07/2017 12h31

Há pouco mais de um mês, os Correios acabaram com o serviços de entregas e-Sedex, criado há 17 anos para desenvolver o comércio eletrônico brasileiro. A reação dos pequenos varejistas foi imediata. Houve muito choro e ranger de dentes, reportagens estimando aumentas da ordem de 30% e 40% do valor do frete das mercadorias compradas para a Internet.  Mas, de forma geral, as mudanças provocadas pelo fim do serviço, foram pouco percebidas pela massa dos consumidors.

"Na verdade, em 32% das faixas da nova política dos Correios o frete ficou mais barato que o próprio e-Sedex. Estamos falando de faixas onde estão a maior demanda, no sul e no sudeste, que concentram o maior mercado", comenta Lemuel Costa e Silva, chefe do departamento de encomendas e e-commerce dos Correios, que participou esta semana do Fórum E-commerce Brasil 2017, em São Paulo.

Tem mais, a empresa pretende, de fato, voltar a usar a marca e-Sedex, mas não somente para encomendas. "Estamos pensando em ao menos duas novas soluções para e-commerce que devem usar a marca, que é uma marca forte", comenta o executivo.

O zum zum zum entorno da volta do e-Sedex começou a circular mais forte na semana passada, e chegou até a motivar a liberação de uma nota oficial da presidência da estatal. Nela, Guilherme Campos confirma que estão em andamento estudos para reformulação do serviço, seguindo a mesma lógica usada até aqui para tornar os serviços da empresa mais atraentes em áreas mais rentáveis, sem abrir mão de cumprir a obrigatoriedade de universalização. E refuta o impacto negativo nas entregas com o fim do e-Sedex. A nota confirma que 32% dos envios que antes eram feitos por meio do e-Sedex tiveram queda real de preço. E informa que a diferença foi, em média, de 8%. "Mas há casos em que o preço chegou a cair 30%", diz o texto.

Calma lá… Antes de parar de ler, se irritar, dizer que os Correios estão mentindo, que tal tentar entender a lógica por trás da reestruturação das ofertas da estatal para o e-commerce brasileiro e como ela obedeceu a uma tentativa da empresa de voltar a ser competitiva no segmento de logística do varejo online?

Cenário
Vamos lá. Faz algum tempo que Pedro Guasti, VP de Intelligence Market do BuscaPé, diretor geral da e-bit e presidente do Conselho de Comércio Eletrônico da FecomercioSP,  alerta que para boa parte do ecossistema do e-commerce nacional, o fim do e-Sedex não faria a menor diferença. Por quê? Por vários motivos.  O maior dele é que o e-Sedex já vinha deixando de ser uma boa alternativa frente às outras opções do mercado e, mais recentemente, do próprio Correios.

Pedro lembra que várias dessas empresas de logística viram nas muitas greves e paralisações do Correios, que ajudaram a denegrir a imagem do serviço por conta dos atrasos causados nas entregas, uma oportunidade para ganhar mercado, aproveitada sobretudo para cargas grandes e de maior valor.

Isso aparece claramente nas informações fornecidas com exclusividade para este blog pela BigData, que há três anos coleta uma enorme massa de dados para a pesquisa "Perfil do e-Commerce Brasileiro", do PayPal. Os dados são referentes à segunda semana de julho, nos três anos comparados. Em 2017, a empresa identificou 600 mil varejistas online na massa de dados analisados. Em 2016, foram 547 mil e em 2015, 450 mil.

Vale lembrar que a empresa considera um e-commerce qualquer site que deixe o consumidor fazer uma transação de compra de produto ou serviço pela internet.

Os números, nos gráficos abaixo, surpreenderam até mesmo o Lemuel, dos Correios. "Achava que era a nossa participação era maior", diz ele. Vale ressaltar que foram consideradas palavras referentes ao modelo de entrega.

Os resultados da BigData Corp comprovam que o mercado passou a ter muitas alternativas, principalmente para médias e grandes cidades, feitas por empresas privadas, conforme havia apontado Pedro.

Outro fenômeno importante a considerar nesses três anos, foi o movimento feito pelos grandes marketplaces, como MercadoLivre, Uol Host, etc, que atendem a maioria dos pequenos lojistas. Vários passaram a contar com serviços de entrega próprios, como o Envio Fácil, do PagSeguro e o Mercado Envios, do MercadoPago, lembra o diretor da e.bit.

Esses serviços usam os Correios, embora alguns não digam isso abertamente. E têm uma taxa melhor do a taxa do balcão da estatal, conforme explica Lemuel. De acordo com ele, os Correios têm contratos em condições especiais com 16 marketplaces. Inclusive, alguns marketplaces verticais, como o Elo7, específico para artesanato. "Eles diluem o preço do frete na cesta de outros serviços", comenta o chefe do serviços de encomendas da estatal. O pessoal do Uol Host, confirma. O Envio Fácil agiliza a parte operacional de impressão de etiqueta e monitoramento de entrega, com taxas que podem economizar mais de 50% do valor do frete. O modelo foi criado em parceria com os Correios.

É aí que o fim do e-Sedex começa a fazer sentido e percebe-se uma grande desinformação, até mesmo entre os varejistas. De acordo com Lemuel, a nova política comercial dos Correios pesou mais para determinados perfis de carga e localização de entrega.

"De fato, entregas para algumas cidades do norte e nordeste ficaram um pouco mais caras. Em compensação, a maioria das entregas locais e estaduais, especialmente nas regiões  sul e sudeste, que concentram a maior demanda, ficou mais barata", diz ele.

A reformulação considerou que nos grandes centros, e em cidades do sul e sudeste, muitos varejistas online já haviam deixado de usar os serviços dos Correios, preferindo os serviços concorrentes.

"Analisamos a demanda do próprio Correio, as demandas e o potencial de mercado e começamos a ajustar a nossa escala para dar um preço melhor onde existe maior escala e potencial de mercado.  Foi isso com que fez que norte e nordeste ficasse um pouco mais caro", comenta o executivo dos Correios.

De acordo ele, o  Sedex d+1 ficou mais barato e mais rápido que o PAC para entregas locais. Em média, 10%.  "Por isso, na maioria dos locais de alta demanda o valor da entrega ficou menor que os valores do e-Sedex", reafirma o executivo, lembrando que essa lógica ajuda à de subsídio cruzado interno dos Correios, obrigado, pela legislação, a ter presença mesmo em locais onde não são realizados nenhum envio ou entrega no ano todo.

"No e-commerce esse subsídio estava desbalanceado. A concorrência, presente só nos grandes centros, estava ficando com o filé e os Correios só com o osso", diz ele, para quem a nova política vem se mostrando acertada para a empresa e para o mercado. "Não tem nem dois meses e já registramos ganhos", comenta Lemuel, mencionando aumento de dois dígitos no volume de entregas e no faturamento.

Novas ofertas
"Nossa intenção foi corrigir as distorções ampliando benefícios para voltar a ser competitivo", explica Lemuel. "Infelizmente, não soubemos dizer isso para o mercado", diz ele. De fato, sobressaiu o choro de muitos pequenos e-commerces que trabalham mais com entregas nacionais.

Seguindo essa lógica,  a equipe de Lemuel continua trabalhando no desenho de novas ofertas. Duas novas soluções já no formo vão atender o e-commerce nacional. E para elas, segundo ele, cabe o uso da forte marca e-Sedex, como mencionado anteriormente. "Essas duas soluções consideram uma estratégia mais ampla, de ofertas integradas de serviços e não apenas encomendas", diz  executivo.

Aproveitando o gancho, quis saber como havia evoluído o serviço de logística integrada lançado no ano passado, o Correios Log para atender justamente o pequeno varejista.  Na época do lançamento do Correio Log, uma pesquisa realizada pelos Correios havia revelado que  90% das lojas virtuais do Brasil são pequenos negócios e 89% delas assumem a própria logística nas etapas de armazenagem e manuseio. O cenário já mudou um pouco, mas ainda assim, o serviço se mostrou acertado. Lojistas de São Paulo e de Brasília, familiarizados com o Log, falam em reduções de mais de 40% com os custos de armazenagem, manuseio e entrega.

"Já temos mais quatro praças preparadas para entrar em operação agora no mês de agosto: Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte e Curitiba.  Junto com as duas já existentes, atendem 90% das praças onde há maior competição e onde está o consumidor", revela Lemuel. "Aproximar esses centros de logística do consumidor nos permitirá reduzir mais o preço final do frete", diz ele.

Ah! Importante. Não pense que a falta do e-Sedex impactará demais a BlackFriday. A equipe de Lemuel já começou a trabalhar no planejamento da data, para evitar que isso ocorra.

Será que podemos ficar otimistas?

Tudo o que tenho lido na internet é que milhares de lojas virtuais, principalmente fora do eixo Sul-Sudeste, estão sendo forçadas a migrar sua logística para transportadoras privadas, e este processo pode ser mais difícil do que se parece. Para elas,  o custo do frete aumentou cerca de 40% . Antes o frete correspondia a  cerca de 11% do ticket médio.

Em reportagem publicada pelo jornal Maranhão Hoje, Breno Bentim, Coordenador de E-commerce e Marketing Digital do Grupo Technos, presente em todo o país, diz que trabalhar com transportadoras requer controlar custos, gerenciar contratos e tabelas, acompanhar SLAs e integração de sistemas e muitos mais.

"Estávamos nos preparando desde o início de 2017 para esta mudança dos Correios, abrimos negociação com algumas transportadoras, avaliamos custos e todo impacto em nosso negócio. Seria necessário realizarmos diversas integrações, negociar contratos e tabelas, além de ficarmos limitados a poucas transportadoras, e, qualquer nova mudança geraria novos custos", conta Breno Bentim.

Que tal conversar com o Lemuel, Breno? Faltam só quatro meses para data. E depois, vem o Natal.

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Por que tudo isso é importante? Porque segundo a ABCom (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) o preço do frete representa de 6% a 12% do valor pago de um produto adquirido pela web. E segundo Roosevelt Nascimento, gerente geral de produtos do UOL, em entrevistas e pesquisas com a base de clientes do UOL Host, os lojistas informaram que gostariam de repassar integralmente para os consumidores qualquer  economia relacionada ao frete, para reduzir o valor final da compra.

Portanto, quem sempre paga essa conta é o consumidor final.

 

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.