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Cristina de Luca

Telecomunicações e IoT, uma revolução em curso

Cristina De Luca

20/09/2017 09h02

As aspirações gerais do país em Internet das Coisas, em do setor de Telecomunicações em particular,  praticamente dominaram os debates do 61º Painel Telebrasil. E não poderia ser diferente. A Internet das Coisas (IoT) é a base do novo ciclo de serviços de telecomunicações. Terá impacto avassalador em todos os setores da sociedade. Todas as projeções apontam para números gigantescos. Fala-se em mais 100 bilhões de dispositivos conectados e impacto superior a US$ 11 trilhões nos próximos dez anos, em todo o mundo. E 2,5 milhões de oportunidades de emprego nos próximos 5 anos.

Se desejarem ser competitivos nesse cenário, o setor de telecomunicações e os países precisam encarar de frente os gigantescos desafios de consolidação de um ecossistema de IoT, que passam por questões que vão além de simplesmente ter uma infraestrutura adequada disponível. Nesses dois dias ouvimos muito falar em desafios de governança, regulação, domínio das competências necessárias, definição de papéis. Até onde deve ir o braço de estado como indutor e regulador. O que se espera dos fabricantes de equipamentos e das operadoras? Dos criadores de aplicações? E da academia?

No que diz respeito ao papel do governo, o Plano Nacional de Internet das Coisas, fruto de um estudo envolvendo todos os segmentos econômicos e sociais que serão diretamente impactados pela IoT, está prestes a ser apresentado. A expectativa mais otimista  é a de que isso aconteça ainda este ano, no fim de outubro, para que as primeiras ações estruturantes possam ser iniciadas já em 2018.

Tudo o que a sociedade civil e a iniciativa privada desejam é que Plano Nacional de Internet das Coisas (IoT) estabeleça políticas públicas para o desenvolvimento de soluções com IoT e permita a sustentabilidade das ofertas. A Carta de Brasília, entregue na cerimônia de abertura do Painel Telebrasil ao Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC), exorta o governo a "incentivar investimentos do setor de telecomunicações, sustentáculo do ecossistema de IoT e promover parcerias público-privada visando o estimulo à pesquisa e o desenvolvimento da internet das coisas para às áreas definidas como prioritárias e do interesse nacional".

Até aqui, o que se sabe, é que quatro setores verticais prioritários conduzirão os esforços horizontais do governo: Cidades Inteligentes, Agronegócio (que o governo chama de Rural), Saúde e o setor Industrial. Eles serão o norte para as iniciativas do governo para fomento da oferta e da demanda de serviços de IoT. As tais ações estruturantes e "habilitadoras", incluindo a criação de programas de fomento (pensou em tributação? Bingo!) e medidas regulatórias.

Aos poucos, executivos do governo envolvidos com o tema começam a reelar detalhes do que deveremos ver no plano. Na área de governança, por exemplo, a ideia é a manutenção da Câmara de Internet das Coisas, criada para coordenar o estudo elaborado pelo Consócio McKinsey/CPqD/PNM, e a criação de um Observatório da Internet das Coisas. A Câmara teria função executiva e o observatório, funções operacionais, como o levantamento de dados para medir s efetividade das iniciativas implantadas, segundo o Maximiliano Martinhão, Secretário de Políticas de Informática, coordenador da Câmara.

Fala-se também em uma regulação mínima, que envolveria diferentes ministérios. No caso da conectividade, a Anatel segue com o firma propósito de não criar uma espécie de licença para Internet das Coisas, mas passar a olhar para a liberação de uso de frequências de modo a permitir o surgimento de aplicações inovadoras. "Pelo cronograma regulatório a gente só deve ter propostas que envolvam IoT no meados de 2018", comentou Nilo Pasquali, da Anatel, em um dos painéis que tratou do assunto.

A intenção da Anatel é buscar um alinhamento para IoT considerando a política regulatória por completo. Dá para cobrar uma taxa de R$ 5 para licenciamento de bilhões de terminais? Serão bilhões de conexões M2M! Claramente será preciso encontrar soluções razoáveis de regulação, cobrar taxas razoáveis, e por aí vai. "Naturalmente, um debate em relação a isso é premente, necessário e inevitável", afirmou Pasquali, ressaltando que o propósito da agência reguladora é reduzir barreiras para o desenvolvimento de aplicações de IoT e M2M, com uma regulação mínima.

Já em relação ao fomento à inovação, o estudo identificou a necessidade de o governo financiar 200 startups de Internet das Coisas nos próximos 5 anos, informou o o secretário Maximiliano Martinhão. Mas antes, o governo precisa fazer um dever de casa, segundo Miriam Winner, do MCTIC. "Temos programas de incentivos a startups em diferentes ministérios. Será importante, no caso de IoT, que esses programas atendam as startups em momentos diferentes do seu ciclo de vida, de forma complementar", disse.

Hoje, em um debate previsto para acontecer no início da tarde, sobre o quê cada setor do ecossistema precisa fazer para o desenvolvimento sustentável do mercado de IoT no país,  Maximiliano Martinhão deverá mostrar um pouco mais das ações envolvendo o setor de telecomunicações. Entre os debatedores estarão Irecê Fraga Kauss, diretora do departamento de TICs do BNDES, Eduardo Navarro, presidente da Vivo/Telefônica, Stefano de Angelis, presidente da TIM,  Luis Tonisi, vice-presidente, Nokia do Brasil e Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson.

O debate deve abordar como cada empresa está vendo esse mercado e se preparando para ele, considerando sobretudo mudanças nos modelos de negócio para desenvolvimento do ecossistema no Brasil. Mas também vamos falar de impactos culturais para o setor, necessidade de formação de mão de obra,interoperabilidade e por aí vai.

Que desafios a iniciativa privada  vislumbra para IoT em relação às questões regulatórias, de tributação, adequação de ofertas de serviços, de infraestutura (no caso das operadoras), segurança e privacidade, e por aí vai. A Abinee tem uma lista grande! Falo dela depois, com calma.

A expectativa é a de que Maximiliano Martinhão revele mais detalhe do estudo, considerando cada vertical escolhida.

A curiosidade é grande para conhecer a priorização das iniciativas para superar os desafios de desenvolvimento de cada vertical e, principalmente, o detalhamento do plano de ação, ainda que de forma preliminar.

A ver.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.