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Cristina de Luca

Brasil é o país mais preocupado com Fake News, diz GlobeScan

Cristina De Luca

26/09/2017 13h20

O termo "notícia falsa" entrou no léxico global durante as eleições presidenciais dos EUA de 2016, diz Caroline Cakebread do Business Insider (BI). Mas eu diria que as notícias falsas já tinham mostrado toda a sua força no Reino Unido, durante o referendo do Braxit.

No Brasil, o fenômeno sempre foi conhecido de quem acompanha o noticiário político. Notícias falsas, distribuídas por periódicos eleitorais, sempre tentaram minar a reputação dos candidatos.

Com o passar dos anos, e as modernas ferramentas de comunicação digital, as "fake news" tomaram proporções cada vez maiores. Li outro dia, no Estadão, que cerca de 12 milhões de pessoas difundem notícias falsas sobre política no Brasil, de acordo com levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai) da Universidade de São Paulo (USP). O dado é resultado de um monitoramento com 500 páginas digitais de conteúdo político falso ou distorcido no mês de junho.

A própria Caroline, no BI, nos lembra de um relatório da BBC Brasil, de 2016, que aponta que durante a semana que antecedeu o julgamento da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, três das cinco notícias mais compartilhadas no Facebook eram falsas.

Agora, os resultados da pesquisa da GlobeScan -realizada entre janeiro e abril de 2017 para a BBC, ouvindo mais de 16 mil adultos em 18 países, incluindo o Brasil – revela que somos a nação mais preocupada em separar o real do falso nos meios digitais (92%).  Outras economias emergentes também relatam grande desconforto com as notícias falsas. Especialmente a Indonésia (90%), a Nigéria (88%) e  o Quênia (85%).

Em outros lugares do mundo, os níveis relatados de preocupação com o conteúdo falso da Internet também são bastante elevados, variando de 75 a 85 por cento na maioria dos países, com exceção da Alemanha – a única nação pesquisada com uma maioria pequena (51%) afirmando que não estar preocupada com a propagação de notícias falsas.

No Brasil, a pesquisa foi realizada em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, representando 23% da população adulta nacional.

Quem é culpado da investida de notícias falsas? E, o mais importante, quem é responsável por lutar contra eles?

Segundo os jornalistas ouvidos recentemente por pesquisa recente da Ogilvy Media Influence, são as redes sociais. Na primeira parte da pesquisa, repórteres e editores – que cobrem temas como notícias nacionais, negócios, entretenimento e políticas, em toda a América do Norte, Ásia-Pacífico e Europa, Oriente Médio e África – identificaram o Facebook como o maior responsável (39%), seguido de outras redes e plataformas digitais como Google (15%) e Twitter (4%).

Diante da pressão popular  para fazer algo contra falsas notícias em sua plataforma, o Facebook vem anunciando ferramentas e mudanças nos serviços de publicidade para evitar que elas se espalhem.

No entanto, o público pensa que os políticos e o público em geral têm tanta responsabilidade na expansão da desinformação quanto as plataformas, conforma revela uma outra pesquisa realizada pela BBC, em dezembro de 2016.

O que, no fundo, acaba sendo coerente com outros resultados da pesquisa da GlobeScan em relação à regulamentação da Internet.

Apesar de sua preocupação com o conteúdo falso da Internet, uma proporção crescente de usuários da Internet se opõe à regulamentação governamental. Em média, em 15 dos países pesquisados, a proporção dos que concordam que a Internet nunca deveria ser regulada por qualquer nível de governo aumentou, de 51% em 2010 para 58% em 2017.

Os países onde a população ,ais se opõem a qualquer tipo de regulamentação governamental da Internet são Grécia (84%), Nigéria (82%), Brasil (72%), França (71%) e Turquia e Quênia (cada 70%).  Estes países também tendem a ser aqueles em que a oposição à regulamentação cresceu mais notavelmente desde 2010: os maiores aumentos são 24 pontos na França, 19 pontos no Brasil e 16 pontos na Turquia.

Nos 16 dos países pesquisados, uma média de 82% pensa que o acesso à Internet deve ser um direito fundamental de todas as pessoas, contra 79% em 2010. No mesmo intervalo, o uso da Internet se expandiu globalmente, com 75% relatando seu uso pessoal nos últimos seis meses em 2017, um salto de 16 pontos em comparação com sete anos atrás (59%).

"Essas descobertas da pesquisa sugerem que a era da" notícia falsa" pode ​​ser tão significativa na redução da credibilidade da informação online, como as revelações de vigilância da Agência Nacional de Segurança (NSA) de Edward Snowden foram para reduzir o conforto das pessoas em expressarem suas opiniões online", afirma Doug Miller, presidente da GlobeScam.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.