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Cristina de Luca

Facebook muda mais uma vez o algoritmo do News Feed, agora de forma radical

Cristina De Luca

12/01/2018 09h10

Prepare-se para ver ainda mais publicações de amigos, de membros da família e de grupos no News Feed do Facebook, e bem menos conteúdos públicos, gerados por editores e marcas. O Facebook acaba de anunciar mudanças radicais no algoritmo que controla as postagens de textos, vídeos e fotos vistos com mais frequência por cada um de nós. A intenção, segundo o próprio Mark Zuckerberg, é tornar o tempo gasto na rede social um "tempo bem gasto" e as "interações sociais mais significativas".

Em resumo, a partir das próximas semanas os usuários da rede social começarão a ver menos vídeos virais e notícias. Em vez disso, o Facebook irá destacar as postagens com as quais os amigos interagiram – por exemplo, uma foto do seu cão ou uma atualização de status que muitos deles comentaram ou gostaram. Só entrarão no feed aqueles conteúdos públicos que incentivem  interações positivas entre as pessoas, no entender do próprio Facebook.

Um dos objetivos é encorajar mais conversas construtivas entre usuários, evitando a polarização sobre temas polêmicos. Para conseguir isso, o algoritmo precisará prever com maior exatidão as postagens que vão gerar mais interação. O Facebook sustenta que a interação ativa e "significativa" é boa para as pessoas. E a rede precisa gerar experiências mais positivas que negativas.

"Sentimos a responsabilidade de garantir que os nossos serviços não são apenas divertidos, mas também bons para o bem-estar das pessoas", disse Zuckerberg em um post no qual explica a mudança. "Estou mudando o objetivo que eu dou às nossas equipes de produtos para se concentrarem em ajudá-lo a encontrar conteúdo relevante".

"Vídeo e outros conteúdos publicitários explodiram no Facebook nos últimos dois anos", escreve Zuckerberg. "Uma vez que existe mais conteúdo público que as postagens de seus amigos e familiares, o saldo do que está no News Feed deslocou-se da coisa mais importante que o Facebook pode fazer – ajudar a nos conectarmos uns com os outros".

Trocando em miúdos, parece que a pressão crescente feita por políticos,  investidores e ex-executivos do  próprio Facebook (que chegaram a publicamente que o rede social é psicologicamente viciante e prejudicial à democracia) mexeu com Zuckerberg, que decidiu "consertar" o Facebook à sua maneira, baseado em estudos que sugerem que o quanto usamos as mídias sociais é tão significativo como a forma como as usamos.

Meu temor é que isso dê ao Facebook uma licença para ser ainda mais ativo no papel de curador dos conteúdos considerados pelo algoritmo como os mais adequados para cada um de nós. E, de certa forma, atuar como censor, em muitos casos.

Vale lembrar que, até agora, a rede social vinha relutando em tomar decisões editoriais sobre a qualidade ou a veracidade do que é publicado na plataforma.  Zuckerberg parece ter encontrado uma forma de tirar proveito do clamor dos críticos, que sempre consideraram que o mais poderoso distribuidor de conteúdo de mídia na web tinha o dever de trabalhar duro para eliminar a informação errada na rede.

Sinceramente, não sei se essas mudanças nos conduzirão a isso. Não há garantias de que, com as mudanças anunciadas, o algoritmo conseguirá oferecer uma melhor exposição para os meios de comunicação considerados mais confiáveis, já que a empresa continua seus esforços para limitar a exposição de notícias falsas.

Ainda é cedo para dizer como o novo sistema de classificação afetará o alcance dos editores, mas muitos já estão preocupados, e com razão. Temem ser prejudicados. Várias empresas de mídia, assim como organizações sem fins lucrativo e pequenas empresas, dependem da rede social para alcançar as pessoas, de modo que retirar relevância de suas postagens provavelmente irá prejudicá-las.

A esperança da equipe de Zuckerberg é que as notícias mais importantes continuem chegando ao News Feed,  uma vez que familiares e amigos já a estejam compartilhando e debatendo ativamente.

Interessante…. Se isso acontecer, não estaremos criando mais bolhas e as reforçando, em fez de ajudar a desfazê-las e a ampliar a visão de mundo das pessoas?

Cerca de dois terços dos americanos dependem de mídias sociais para notícias, de acordo com um pesquisa do Pew Research Center. Certamente, os produtores de conteúdo público serão forçados a mudar suas estratégias…

O próprio Facebook admite que o alcance, o tempo de exibição de vídeo e o tráfego de referência provavelmente diminuirão na rede social. O impacto vai variar de página para página, impulsionado por fatores como o tipo de conteúdo que produzem e como as pessoas interagem com eles.

Zuckerberg escreveu que as mudanças provavelmente resultarão em pessoas que passam menos tempo no Facebook. Que a métrica de tempo de permanência deixará de ser tão relevante. Isso trará impacto também para os negócios da rede."Se fizermos o que é certo, acredito que também será bom para a nossa comunidade e nossos negócios a longo prazo", disse ele.

Veremos mais conteúdo patrocinado, como forma de compensação? O Facebook costuma dizer que o vídeo ao vivo é um forte motor de engajamento e discussão – seis vezes maior do que o vídeo normal. Pela lógica, esses  vídeos ainda aparecerão em nossos feeds. Teremos mais vídeos ao vivo circulando na rede? E de que forma evitar que espelhem conteúdo impróprio e ofensivo, antes de serem denunciados?

O vídeo abaixo tenta explicar como as mudanças afetarão o que veremos no Facebook a partir das próximas semanas.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.