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Cristina de Luca

Máquinas e algoritmos já são responsáveis por 29% de todo o trabalho hoje

Cristina De Luca

20/09/2018 19h46

Máquinas e algoritmos já são responsáveis por 29% de todo o trabalho hoje. E em cinco anos, esse percentual subirá para 42%.

Até 2022, 62% das tarefas de processamento de dados e busca e transmissão de informações serão realizadas por máquinas, segundo o mais recente estudo do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho, divulgado esta semana durante a já tradicional Reunião Anual dos Novos Campeões, realizada em Tianjin, uma das mais importantes cidades da China.

De acordo com o estudo, a expansão da participação das máquinas e dos algoritmos na divisão do trabalho será particularmente marcante para tarefas de raciocínio e tomada de decisão, bem como para tarefas administrativas e de busca de informações. Mesmo trabalhos realizadas predominantemente por humanos hoje – como comunicação, interação, coordenação, gerenciamento e aconselhamento – já começam a ser realizadas por máquinas, embora em menor grau quando comparadas com ocupações típicas da manufatura na era da Indústria 4.0.

Desemprego maior? Talvez não, ainda
Segundo os resultados do estudo, até 2022, as ocupações emergentes de hoje deverão crescer de 16% a 27% da base de empregados de grandes empresas em todo o mundo, enquanto os papéis atualmente afetados pela obsolescência tecnológica deverão diminuir de 31% para 21%.

Em termos puramente quantitativos, 75 milhões de cargos atuais podem ser substituídos pela mudança na divisão do trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos. Em contrapartida,  133 milhões de novos empregos poderão emergir nesse período (58 milhões deles relacionados à robótica), afastando os temores de que a balança penda para o aumento do desemprego por falta de vagas.

O desemprego poderá ocorrer, sim, mas por falta de qualificação para as novas funções.  E nesse ponto, o foco do estudo no curto prazo (cinco anos) nos obriga a considerar desde já o que precisaremos fazer para garantir o futuro que queremos.

Está claro que a gestão das mudanças estruturais que ocorrerão exigirá uma coordenação muito melhor das iniciativas para mitigação por parte dos próprios trabalhadores, dos empregadores e, especialmente, dos formuladores de políticas.

À medida que novas habilidades forem surgindo, os governos, as instituições de ensino e os empregadores precisarão considerar como desenvolver mais eficazmente programas de treinamento que equipem as pessoas com as habilidades necessárias para acompanhar a economia moderna.

Na opinião dos técnicos do Fórum Econômico Mundial, se administradas com sabedoria, as transformações poderão levar a uma nova era de bons trabalhos, bons empregos e melhor qualidade de vida para todos, mas, se mal administradas, poderão ampliar as lacunas de habilidades e as desigualdades.

De acordo com o estudo, a média global de "estabilidade de habilidades" – a proporção de habilidades essenciais necessárias para realizar um trabalho que permanecerá o mesmo – é de cerca de 58%. Isso significa que os trabalhadores verão uma mudança média de 42% nas habilidades necessárias no local de trabalho já nos próximos 5 anos.

O estudo estima também que aqueles trabalhadores menos qualificados, que provavelmente serão totalmente deslocados de suas funções, levarão em média 2 anos ou mais  para nova capacitação capaz de assegurar uma ocupação melhor remunerada. Para 70% dos trabalhadores deslocados, o novo papel virá de fora de sua indústria atual.

Esses continuam sendo desafios assustadores e é fundamental que os governos desempenhem um papel proativo ao tratá-los.Uma abordagem abrangente para o planejamento da força de trabalho, requalificação e melhoria de qualificações será a chave para o gerenciamento positivo e proativo das tendências apontadas.

Segundo os organizadores do estudo, as políticas necessárias para a preparação do mercado de trabalho moderno deverão incluir medidas como a melhoria dos centros de emprego, passando pelo desenvolvimento de redes de segurança de renda, ofertas de treinamento e até novas políticas de trabalho online.

Profissões em alta
As ocupações em crescimento incluem funções como Analistas de Dados, Desenvolvedores de Software e Aplicativos e Especialistas em Comércio Eletrônico e Mídias Sociais – trabalhos que significativamente baseados e aprimorados pelo uso da tecnologia.

No entanto, a proficiência em novas tecnologias é apenas uma parte da equação de habilidades de 2022.Habilidades "humanas" como criatividade, originalidade e iniciativa, pensamento crítico, persuasão e negociação também reterão ou aumentarão seu valor, assim como a atenção aos detalhes, resiliência, flexibilidade e solução complexa de problemas.

Espera-se  aumento demanda por funções relacionadas ao Atendimento ao Cliente, Vendas e Marketing, Treinamento e Desenvolvimento,  Cultura, Desenvolvimento Organizacional e Inovação.

Vários empregos altamente "automatizáveis" se enquadram nas 10 mais ocupações em declínio – isto é, empregos que tiveram as maiores quedas na participação das contratações nos últimos cinco anos. Essas ocupações incluem assistentes administrativos, representantes de atendimento ao cliente, contadores e técnicos elétricos/mecânicos, muitos dos quais dependem de tarefas mais repetitivas.

Moral da história
Em resumo, os técnicos do Fórum Econômico Mundial alertam que, embora seja improvável que a IA substitua os trabalhadores humanos, a incerteza sobre quais tipos de empregos serão criados, quão permanentes eles serão e que tipo de treinamento eles podem requerer permanecem.

A preparação da força de trabalho para essas mudanças dependerá de uma abordagem baseada em dados para entender as tendências que estão moldando o futuro do mercado de trabalho e do compromisso de investir em oportunidades de aprendizagem ao longo da vida que possam ajudar os trabalhadores a se adaptarem às rápidas mudanças econômicas.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.