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Cristina de Luca

Ecos da CES 2019 apontam para maior concorrência entre as FAANGs este ano

Cristina De Luca

11/01/2019 21h58

A Consumer Electronics Show 2019 terminou e os anúncios feitos na semana do show, não apenas em Las Vegas, não deixam dúvida: 2019 será um ano de concorrência acirrada entre as FAANGS, o grupo formado por Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Google.

Líderes serão atacados em seus domínios, sem cerimônia, em movimentos que podem mudar a atual configuração dos mercados que dominam, caso sejam bem sucedidos.

Se olharmos para as novidades em streaming, por exemplo, dá para ver que a Netflix terá um ano complicado.

A IMDb, subsidiária da Amazon, acaba de lançar o Freedive, um serviço gratuito de streaming com suporte de anúncios que estará disponível inicialmente em PCs e dispositivos Amazon Fire TV. Uma versão para dispositivos móveis está prevista para as próximas semanas. O serviço incluirá o recurso "X-Ray" da Amazon, que permite que os usuários procurem detalhes sobre o elenco, a equipe, as trilhas sonoras e outras informações.

Os concorrentes naturais do Freedrive são os serviços como o Crackle, da Sony, e o The Roku Channel, também apoiados por anúncios. Mas, na prática, ele passa a ser mais um a disputar tempo de exibição ao lado de startups como a Tubi TV e a Pluto TV, e serviços consolidados como Netflix, Hulu e HBO.

Hoje, nos Estados Unidos, os serviços de streaming de vídeo suportados por anúncios são populares, com 73% dos usuários frequentes assistindo a plataformas suportadas por anúncios. As pessoas já têm dificuldade em determinar quais dentre um número crescente de serviços de assinatura valem US$ 10, US$ 20, US$ 30 ou mais por mês. E isso vai piorar.

A Amazon, com seu vasto alcance e know-how de segmentação de anúncios, pode estar bem posicionada para conquistar uma parte considerável desse mercado e, de quebra, ajudar a Freedive a se diferenciar através da produção de conteúdos exclusivos, como acontece com o serviço da Sony.

Quase todas as grandes empresas de vídeo estão migrando para o negócio de streaming de mídia. Os lançamentos planejados da Disney e da AT&T acrescentam maior complexidade a essa mistura. Muitas delas devem transferir seu conteúdo da Netflix para seus próprios serviços, como aponta reportagem do Recode.

Essa perda potencial de conteúdo licenciado é parte da razão de a Netflix ter aumentado seus gastos com conteúdo original ultimamente. Tudo para manter o interesse dos assinantes, que ruma para um possível ponto de saturação nos Estados Unidos. Hoje, o negócio da empresa depende fortemente da quantidade de assinantes. Mas o que parecia a sua maior fortaleça, começa a dar sinais de que pode passar a ser o seu maior problema.

A disputa por assinantes deve ficar ainda mais acirrada com a entrada da Apple neste mercado. E não apenas para dispositivos da própria companhia. Na CES 2019, a Samsung anunciou que vai oferecer o iTunes Movies  em suas TVs. A Apple parece ter entendido que para ser competitiva nesse negócio, não poderá restringir o acesso apenas à sua base instalada, por maior que ela seja.

Já na praia dos assistentes de voz…
O domínio da Amazon, com a dupla Echo e Alexa, também começa a ser testado.

Analistas de mercado dizem que o Google está em uma posição ímpar em sua concorrência com a Amazon pela supremacia da voz no mercado dos EUA.  Será?

Embora não seja possível auditar o número, a Amazon revelou na semana passada ao jornalista Alex Castro, do The Verge, ter vendido 100 milhões de dispositivos aptos ao uso da sua assistente de voz, a Alexa. Além disso, garante que o Amazon Echo Auto, dispositivo que leva a Alexa para o seu carro, apresentado esta semana na CES 2019, já acumula mais de 1 milhão de encomendas. Números que só começaram a ser divulgados depois de o Google ter anunciado que 1 bilhão de dispositivos incluirão o Google Assistente até o final deste mês!

Portanto, se o Google está em melhor posição para aproveitar sua ampla base instalada, a Amazon já estabeleceu uma importante vantagem em dispositivos dedicados em uso.

Aina assim,  Peter Newman, da Business Insider, sustenta que o mercado dos dispositivos ativados por voz ainda está em desenvolvimento e há tempo para mudanças na dinâmica atual, este ano ainda, caso o Google e seus parceiros consigam ampliar rapidamente o ecossistema e conquistar a preferência dos consumidores.

Novas frentes abertas pelo Google nessa direção, reveladas na CES 2019, incluem uma nova iniciativa chamada "Assistant Connect", que será uma estrutura para que os parceiros incorporem alguns dos recursos de IA em seus dispositivos como é o caso do display inteligente, da KitchenAid, ou do Smart Clock, da Lenovo.

O Google também está trabalhando com a Samsung e a Sonos para permitir que o Google Assistant controle mais dispositivos em casa. Por exemplo, a IA do Google poderá controlar a música reproduzida pelos alto-falantes controlados por WiFi da Sonos e alterar as configurações nas smart TVs da Samsung, ativando e desativando, ajustando o volume, alterando os canais e muito mais. Como o controle de TV é uma das características dos assistentes de voz que mais entusiasmam os consumidores, de acordo com uma pesquisa exclusiva da Business Insider Intelligence, isso pode ajudar a gerar maior engajamento com o Google Assistant.

Não por acaso, a família de receptores Hopper da DISH terá o Google  Assistant integrado, para que os usuários possam procurar conteúdo com base em canal, título, ator ou gênero, bem como verificar o clima ou controlar outros dispositivos conectados em sua casa usando sua voz DISH controlo remoto.

Para completar, s Sony, Hisense, Philips, TCL, Skyworth, Xiaomi, Haier, Changhong e JVC  exibiram suas Android TVs na CES, com suporte ao Assistant.

Também é grande a disputa pela interface de voz para os dispositivos que compõem a casa inteligente. Mais empresas estão apoiando os dois ecossistemas. Novas ferramentas permitem a inserção dos assistentes de voz em tudo, desde luzes de banheiros e toaletes da Kohler até espelhos da SimpleHuman e câmeras de monitoramento de animais de estimação da Petcube. A GE, por exemplo, está adicionando suporte ao Google Assistant para a sua linha C by GE, que se baseia no suporte existente para o Alexa.

Voice First também no Marketing
Um relatório da Publicis Media, produzido no primeiro trimestre do ano passado, comenta que "a voz representa o próximo passo lógico na evolução de como interagimos com a informação. É mais natural do que usar um touchpad ou teclado, requer menos capacidade intelectual e cria ainda mais oportunidades para a tecnologia avançar para um outro plano e reduzir nossa dependência das telas".

De fato, para muitos consumidores, os assistentes digitais já estão se tornando companheiros virtuais indispensáveis. Estamos vendo o início de uma mudança de comportamento, impulsionada pela IA com voz como a interface homem-máquina  preferencial. E isso está impulsionando o V-commerce, como quarto canal de varejo, e as estratégias voice first no Marketing Digital.

A Toyota, a Campbell's Soup e a Unilever já estão alavancando o Watson Ads ativado por voz, que permite que os espectadores "conversem" com seus anúncios. E já começam a ter bons resultados. "Os consumidores estão gastando mais tempo com esses anúncios cognitivos do que com outros anúncios digitais", diz Carrie Seifer, CRO do IBM Watson.

Recentemente, o  New York Times publicou um artigo intitulado " Marketing Through Smart Speakers? Brands Don't Need to Be Asked Twice", que explora maneiras pelas quais as empresas estão criando experiências de usuário nesses alto-falantes – não confundir com a criação de anúncios pagos, já que nem o Google Home nem o Amazon Echo os executam (ainda). 

"Chegamos ao ponto em que a maioria dos nossos clientes está agora nos pedindo ajuda com uma estratégia de voz", disse Abbey Klaassen, presidente da agência 360i, para o repórter do Times. "Passou de um tipo interessante de experiência para algo no qual eles reconhecem que precisam investir para garantir que continuem detectáveis ​​e relevantes nos próximos cinco anos."

Os profissionais de marketing têm se apressado para descobrir onde suas marcas se encaixam em um mundo povoado por assistentes de voz e alto-falantes inteligentes. E, por enquanto, os jogos e as buscas têm sido os principais formatos utilizados.

Vale lembrar ainda que a estimativa da comScore é que metade de toda a busca na Internet será feita via tecnologia de voz até 2020.  Só isso já seria motivo suficiente para fazer o Google partir com tudo para cima da Amazon, disposto a abocanhar uma boa fatia do mercado dominado pela dupla Echo e Alexa.

Nas projeções do Gartner,  75% dos domicílios dos EUA terão alto-falantes inteligentes até 2020. Alto-falantes da Amazon, do Google e de quem mais estiver disposto a brigar com esses titãs. O Bixby ,da Samsung, já aparece no horizonte. O HomePod, da Apple, também.

Espera-se que a geração do milênio represente quase 40% das pessoas que usam assistentes digitais habilitados por voz em 2019, segundo estatísticas reveladas pela eMarketer .

Uma barreira para a escalada no uso dos assistente de voz inteligentes pode ser a privacidade. O que não impediu o Facebook, que esteve no centro das manchetes sobre privacidade e proteção de dados pessoais  em 2018, lançasse  seu próprio alto-falante, o Portal, direcionado mais para consultas, incluindo uma versão equipada com uma câmera (o Portal+)  para videochamadas.

A rede social jura que não ouve, visualiza ou mantém o conteúdo das videochamadas realizadas por intermédio do Portal. Que o conteúdo delas é criptografado, para sejam sempre seguras.  Que a câmera do Portal não usa reconhecimento facial e não identifica quem o usuário é. E que o dispositivo só envia comandos de voz para os servidores do Facebook depois do comando "Hey Portal". Ah! Também é possível apagar o log de atividades do Facebook a qualquer momento.

Inferência, o novo front
Por falar na rede social de Mark Zuckerberg, um dos anúncios mais instigantes da CES 2019, ao menos para mim, foi o de que o Facebook está trabalhando em conjunto com a Intel no desenvolvimento de um chip de Inteligência Artificial a ser lançado no segundo semestre deste ano.

O Nervana Neural Network Processor for Inference" (NNP-I) é um chip dedicado a acelerar o que os pesquisadores chamam de inferência, processo que permite o uso da IA para fazer a inserção automática de tags em fotos, marcação de pessoas em imagens, a tradução de postagens de um idioma para outro e a captura de conteúdo proibido. Tarefas caras, e de alto consumo de tempo e energia, se forem executadas em hardware mais genérico.

Na prática, portanto, o NNP-I ajudará o Facebook e outros parceiros da 'intel a implementar Machine Learning de forma mais eficiente e barata. A Intel disponibilizará o chip para outras empresas no fim de 2019.

O NNP-I também pode  colocar a Intel em pé de igualdade com as outras duas únicas concorrentes nesse segmento de mercado: a Nvidia e a Amazon (AWS Inferentia).

Atualmente, a Intel está muito atrás do líder de mercado de hardware de IA, a Nvidia, e enfrenta a concorrência de uma série de novos fabricantes de chips e de empresas como Google e Amazon, ambas desenvolvendo chips para potencializar serviços de Inteligência Artificial na nuvem.

Há rumores de que o Facebook também está explorando seus próprios designs de chips para IA .

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.