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Cristina de Luca

E o Facebook está na berlinda, mais uma vez

Cristina De Luca

29/01/2019 19h28

O mais recente escândalo envolvendo o Facebook revelou que a rede social enganou crianças para que gastassem dinheiro em jogos na plataforma, como Angry Birds e Barn Buddy, sem o conhecimento dos pais.  A informação é de um relatório que veio a público esta semana, acusando a empresa de espoliar famílias.  

Esse documento sustenta que o Facebook incentivou os desenvolvedores a incluirem a opção de compras no aplicativo, sem a necessidade de permissão expressa dos pais, de acordo com o Center for Public Integrity, que convenceu o juiz da Corte Distrital dos EUA Beth Labson Freeman a revelar o material.

"Durante anos, a empresa ignorou os alertas de seus próprios funcionários de que estava enganando crianças", escreve o Centro de Integridade Pública. "Uma equipe de funcionários do Facebook chegou a desenvolver um método que reduziria o problema, mas a empresa não o implementou e disse aos desenvolvedores estar focada em maximizar as receitas."

Em uma carta enviada a Mark Zuckerberg nesta terça-feira, os senadores Ed Markey (D-Massachusetts) e Richard Blumenthal (D-Connecticut) chamam a informação de "alarmante", acrescentando que o relatório levanta sérias preocupações sobre se o Facebook e seus funcionários agiram conscientemente.

Na carta os senadores perguntam quando o CEO da rede social soube do problema, o que fez para minimizá-lo e se pretende se comprometer com a emissão de reembolsos. E dão prazo até 19 de fevereiro para que Zuckerberg responda.

Além disso, grupos de defesa da criança e da privacidade se mobilizaram para pedir ao Facebook que desative imediatamente o Messenger Kids. Eles alegam que a rede social é "imprópria para criar plataformas ou produtos para crianças".

O pleito de desativação do Messenger Kids é antigo.  "Mas agora adicionamos outra preocupação séria: as motivações intencionais do Facebook e as práticas de negócios com relação às crianças", disseram dez desses grupos, incluindo o Common Sense e o Campaign for a Commercial-Free Childhood, signatários de uma outra carta enviada hoje para Zuckerberg.

O Facebook se defende alegando que desde 2016 implementou uma ferramenta dedicada ao recebimento de solicitações de reembolso para compras feitas por menores de idade na rede social.

Mais dor de cabeça
Já nesta segunda-feira, após as notícias de que a rede social vinha compartilhando dados de usuários com outras grandes empresas de tecnologia e planejando consolidar ainda mais seu monopólio, integrando seus produtos de mensageria (WhatsApp, Instagram e Facebook Messenger),  foi a vez da organização  Freedom from Facebook enviar uma carta à Federal Trade Commission (FTC) atualizando uma queixal apresentada em novembro de 2018, na qual pede à FTC que investigue a violação de 50 milhões de contas de usuários e conduza uma investigação mais ampla sobre duas questões adicionais: se o Facebook violou seu decreto de consentimento de 2011 e se se tornou muito grande e complexo para ser governável. 

Na ocasião, a coalizão instou a FTC a buscar o máximo de penalidades civis contra o Facebook e exigir que o Facebook desmembre o WhatsApp, o Instagram e o Messenger. Agora, na carta ontem, exige uma investigação mais profunda sobre os inúmeros escândalos envolvendo a rede social, transparência em relação à forma como os dados dos usuários são (ou forum) utilizados pelas outras empresas de tecnologia, e também uma atualização sobre o status da denúncia anteriormente apresentada.

"Este é um momento decisivo para a FTC", disse Sarah Miller, presidente da Freedom from Facebook . "A flagrância com que o Facebook desobedeceu seu decreto de consentimento mostra que não leva a agência a sério. A ideia de que o Facebook deveria ser quebrado, ou nunca permitir a aquisição do Instagram e do WhatsApp, se tornou mainstream. Se a FTC quiser ser levada a sério de novo – não apenas pelas corporações, mas pelo público, em cujo nome se espera que funcione – a FTC não pode permitir que o monopólio do Facebook continue existindo ".
A carta atual foi assinada por 13 grupos da sociedade civil.

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.