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Cristina de Luca

Depois de perder a Qualcomm e a Intel, Huawei também perde a ARM

Cristina De Luca

23/05/2019 13h00

A fabricante britânica de chips ARM anunciou a suspensão de seus negócios com a Huawei, segundo documentos internos obtidos pela BBC nos quais a companhia instrui seus funcionários a congelar "todos os contratos ativos, direitos de suporte e quaisquer compromissos pendentes" com a gigante chinesa e suas subsidiárias, em cumprimento à recente restrição comercial dos EUA.

Os designs da ARM formam a base da maioria dos processadores de dispositivos móveis em todo o mundo. No memorando interno a empresa diz que seus projetos contêm "tecnologia de origem norte-americana". Portanto, acredita ser afetada pela proibição do governo Trump de fornecimento de componentes à fabricante chinesa.

Esse sim, pode vir a ser um duro golpe para a Huawei, que não poderá comprar nem construir nada além do que já projetou até agora usando tecnologias ARM.  A fabricante britânica fornece dois tipos de licença para a Huawei – core e arquitetura.

Os Kirin SoCs (system-on-a-chips) desenvolvidos pela Huawei sob a marca HiSilicon são baseados em design ARM e usam conjuntos de instruções da britânica. Certamente a chinesa não obterá novas licenças ARM para os futuros Kirin SoCs.

"Além disso, até mesmo a versão de código aberto do Android é projetada apenas para processadores x86 e ARM. Isso significa que os negócios chineses da Huawei também estão sob ameaça significativa", avalia o analista Ben Thompson.

Vale lembrar que a China responde por mais da metade da receita da Huawei, enquanto cerca de 28% vêm da Europa, Oriente Médio e África.

Os cancelamentos das vendas internacionais de smartphones Huawei também já começaram. Nessa quarta feira, Vodafone e  EE, duas das maiores operadoras móveis da Grã-Bretanha, anunciaram que deixarão de oferecer dispositivos Huawei a seus clientes. No Japão, a KDDI e a Yahoo Mobile estão adiando os planos de oferta dos aparelhos P30, previstos originalmente para serem lançados agora, no fim de maio.

Ainda assim, alguns analistas acreditam que qualquer suspensão da ARM terá impacto limitado na produção de smartphones da Huawei, pelo menos no curto prazo. "Se a Huawei perder sua licença principal da ARM, ela ainda poderá usar sua CPU personalizada e a arquitetura da GPU", disse Rex Wu, analista da Jefferies.

Já no longo prazo a história é outra. "Todos os lugares onde a Huawei usa propriedade intelectual da ARM seriam impactados", diz Patrick Moorhead, fundador da Moor Insights & Strategy, "E isso inclui desde minúsculos dispositivos de vigilância até servidores de data center".

Ontem, quarta-feira, a Huawei divulgou um breve comunicado com o objetivo de acalmar os mercados, sem detalhes substanciais. Reforça que o movimento é resultado de "decisões politicamente motivadas", mas não culpa seus parceiros por fazer o que eles sentem ser necessário.A gigante de telecomunicações chinesa continua confiante de que pode resolver toda essa situação.

À noite, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou que os EUA estão promovendo um "assédio econômico" destinado a "impedir o processo de desenvolvimento" de seu país. E prometeu que Pequim lutará "até o fim".

Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.