Amazon e WhatsApp estão entre as empresas que menos protegem a privacidade dos usuários, diz EFF
Cristina De Luca
12/07/2017 11h35
Saiu esta semana a edição 2017 do estudo "Who Has Your Back" (algo como "Quem protege a sua retaguarda?"), da Electronic Frontier Foundation, entidade que defende as liberdades civis no mundo digital. A pesquisa analisa grandes empresas de tecnologia e as classifica de acordo com como elas lidam com pedidos de informação sobre os usuários (ou seja, todos nós).
Desta vez a EFF avaliou as políticas públicas de privacidade de 26 empresas, em cinco categorias, e concedeu estrelas para as empresas em conformidade com cada uma delas. Só nove companhias passaram no teste com nota máxima: Adobe, Credo, Dropbox, Lyft, Pinterest, Sonic, Uber, Wickr e WordPress. Duas empresas populares ficaram aquém de companhias de tecnologia semelhantes: a gigante do e-commerce, Amazon e o WhatsApp. No que diz respeito à resguardar a nossa privacidade, elas só não perderam para as operadoras de telefonia.
Nunca é demais lembrar que, no mundo digital, os dados armazenados em nossos telefones celulares, laptops e especialmente nossos serviços online podem, quando agregados, traçar uma imagem detalhada de nossas vidas – onde vamos, quem vemos, o que dizemos, nossas afiliações políticas, nossa religião e muito mais. E embora muitas grandes empresas continuem a fazer ajustes em suas políticas de privacidade, adotando as melhores práticas para proteger a informação sensível dos clientes dos olhos dos governos, dá para fazer muito mais, segundo as EFF. Mesmo gigantes como Apple, Facebook e Google podem melhorar muito seus controles para evitar rastreamentos.
Este ano, duas categorias foram pesquisadas pela primeira vez: "promete não entregar usuários", e "resiste às ordens de mordaça das NSLs". A primeira reflete a preocupação da entidade com o objetivo declarado de vários governos de cooptar empresas de tecnologia para rastrear usuários a partir de dados como imigração ou religião. Receberam estrelas as empresas que proíbem desenvolvedores e terceiros de capturar dados de usuários para ajudar os governos a realizar sua vigilância.
Já as NSLs são semelhantes a intimações que exigem que os provedores de serviços – incluindo empresas de tecnologia, empresas de telefonia e ISPs – entreguem dados ao FBI sobre as comunicações privadas dos usuários e sua atividade da Internet. Por isso, também receberam estrelas as empresas que exercem seu direito de fazer o governo rever ordens judiciais proibindo-as de divulgar publicamente o recebimento de demandas secretas do FBI para fornecer informações de usuários, emitidas sem supervisão de qualquer tribunal. Foram 12, apenas: Adobe, Airbnb, Apple, Credo, Dropbox, Lyft, Pinterest, Slack, Sonic, Uber, Wickr e WordPress.
De acordo com os autores do estudo, empresas de tecnologia que anteriormente lideraram a transparência e a privacidade do usuário ao ganhar crédito em todas as categorias avaliadas pela EFF – incluindo Facebook, Google e Twitter – ainda não se comprometeram publicamente a solicitar revisão judicial de todas as NSLs.
As piores
Considerando as cinco categorias avaliadas, Amazon e WhatsApp ganharam apenas duas estrelas. A pesquisa da EFF mostrou que, embora as duas tenham feito um trabalho significativo para defender a privacidade dos usuários – e, nesse ponto, os autores ressaltam especialmente a mudança da WhatsApp para adotar a criptografia ponta a ponta para todos os seus bilhões de usuários em todo o mundo – suas políticas ainda estão atrasadas, na comparação com as demais. A Amazon foi classificada como número um no serviço ao cliente, mas não assumiu compromissos públicos para manter a privacidade digital dos usuários assumidos pelo restante da indústria.
Só as operadoras de telefonia tiveram avaliações piores que as obtidas por Amazon e WhatsApp. AT&T, Comcast, T-Mobile e Verizon ganharam apenas uma estrela. Embora tenham adotado uma série de práticas recomendadas da indústria, como publicar relatórios de transparência, elas ainda precisam se comprometer a informar os usuários antes de entregar seus dados ao governo e criar uma política pública de revisão judicial das ordens NSLs.
Seguem as melhores práticas da indústria | Avisa os usuários sobre pedidos de dados do governo | Promete não entregar usuários | Não questiona ordens NSL | Política pública pró-usuário | |
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Relatórios anteriores: 2011 , 2012 , 2013 , 2014 , 2015 , 2016 .
Sobre a autora
Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.
Sobre o blog
Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.