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O que os resultados das Big Four da Internet têm a nos dizer?

Cristina De Luca

03/11/2017 12h55

Com o recente anúncio da Apple, ontem, já conhecemos os resultados das quatro gigantes da Internet para o terceiro trimestre de 2017 (no caso de algumas delas, quarto trimestre fiscal). Todos acima das expectativas dos analistas de Wall Street.

Amazon: receita de US $ 43,7 bilhões.

Alphabet (controladora do Google): receita de US $ 27,8 bilhões

Apple: receita de US $ 52,6 bilhões.

Facebook: receita de US $ 10,33 bilhões.

A maior ameaça a Cuppertino no coração do investidores continua sendo a empresa de Jeff Bezos.  A Amazon cresceu 29% na variação ano a ano, enquanto o crescimento da Apple foi de  12,2% para o mesmo período. E vale lembrar que a participação dos negócios internacionais na receita da Amazon ainda é bem pequena, quando comparada com a participação da receita internacional nos resultados da Apple. A Amazon tem muito a crescer fora dos Estados Unidos, já que hoje a rentabilidade internacional continua praticamente atrelada à AWS e ao serviço Prime (especialmente na China). Será que demora muito para a dupla Echo & Alexa conquistar novos mercado?

As vendas internacionais da Apple responderam por 62% da receita do trimestre, um recorde para o período entre julho e setembro. As vendas na China, um mercado crítico para a Apple, aumentaram pela primeira vez desde o início de 2016. A demanda 3% maior por iPhones, que representam cerca de dois terços das vendas totais, juntamente com a recuperação nas vendas dos computadores Mac e dos iPads, ajudaram a Apple a entregar o quarto aumento trimestral consecutivo na receita e o terceiro aumento trimestral no lucro.  Será que os novos modelos de iPhone sustentarão o crescimento no próximo trimestre?

O iPhone 8 parece estar vendendo bem menos que o iPhone 7, embora a Apple negue. Já as encomendas do iPhone X estão muito fortes, tanto por parte dos clientes diretos como por parceiros de canais, entre eles a as muitas operadoras de telefonia em todo o mundo. Durante a conferência de resultados, Tim Cook se mostrou otimista com o iPhone X que, segundo ele, "custa menos do que um café por dia". O analista Karl Ackerman, da Cowen & Co, também acredita que esse primeiro trimestre de vendas, que termina em dezembro, ainda seja desafiador, mas que a primeira metade do próximo ano deva surpreender no lado positivo, já que as expectativas para o iPhone são muito baixas.

A favor da Amazon pesa a boa imagem da empresa junto aos americanos. No final do mês passado, a "The Verge" fez parceria com a Reticle Research para realizar uma ampla pesquisa sobre a atitude do público em relação a alguns dos maiores nomes da tecnologia. As descobertas são fascinantes: os entrevistados confiam na Amazon quase tanto quanto no próprio banco. De todas as empresas mencionadas na pesquisa, os entrevistados provavelmente recomendariam serviços da Amazon à sua família e amigos. A Apple já não é mais a líder quando se trata de inspirar paixão e confiança nos consumidores. Foi a pior avaliada na pesquisa, entre as quatro gigantes.

O campeão de aumento de receita no período  foi o Facebook: 47,3%, graças à rentabilidade da publicidade de vídeo e nos dispositivos móveis. As questões no cenário político, no entanto, tendem a reduzir esse ritmo. Embora tenha reportado expectativas de crescimento para o trimestre seguinte, o Facebook advertiu os investidores de que a receita será impactada pelo aumento dos investimentos em torno de seus esforços para combater falsas notícias e abusos. Nunca é demais lembrar que a rede social está no centro de uma tempestade política nos Estados Unidos pela maneira como lida com anúncios políticos pagos e permite a propagação de notícias falsas.

Quanto? Aí é que está a questão. O Facebook diz que pode aumentar em até 60% os gastos em 2018, mas inclui entre as causas não apenas a melhoria das medidas de segurança. Estão nesse montante também gastos para desenvolver  recursos de vídeo e recursos de "realidade aumentada", entre outros. Vale lembrar também que o Facebook tem um histórico de excesso no reporte de despesas. Por exemplo, em 2015, a empresa estimou o crescimento de Opex de 65% e entregou 57%. Em 2016, a empresa estimou 35% e entregou 30%. Em 2017, 45% e parece que vai entregar 35%. Quer dizer, joga a expectativa dos investidores lá em cima, para pousar de muito eficiente depois.

Já o crescimento da receita da Alphabet foi apenas 24% maior que o do mesmo período em 2016. Mas aproximadamente US $ 24,1 bilhões, ou cerca de 87%, vieram das vendas publicitárias do Google. A maior parte do restante da receita da Alphabet, cerca de US $ 3,4 bilhões, veio de outros fluxos de receita do Google, incluindo vendas de hardware, serviços em nuvem e vendas de serviços de assinatura como YouTube TV e Google Play. O que a torna uma competidora ainda a ser batida pelo Facebook, bastante incômoda para o crescimento dos serviços de streaming da Apple (de 75% nesse trimestre)  e ainda pouco representativa para ameaçar o reinado da AWS.

O Google deve gerar cerca de 72,42 bilhões de dólares em receita líquida de anúncios digitais em todo o mundo este ano, aumento de 15,7 por cento ante um ano atrás, de acordo com a empresa de pesquisas eMarketer. Mas a maior parte desse bolo ainda vem dos anúncios para desktop e busca. A empresa tem muito a crescer em anúncio de vídeo (no YouTube) e nos dispositivos móveis (seu atual foco). A ver.

E o futuro?
De modo geral, os riscos regulatórios em torno do Facebook, da Amazon, da Apple e do Google ainda assustam os investidores.  Preocupa, sobretudo, a enorme quantidade de dados pessoais que Google, Facebook e Amazon estão acumulando. O Facebook, por exemplo, foi processado na Europa por sua transferência de informações sobre usuários da Europa para os EUA. Senadores americanos também tentam passar um projeto de lei que forçaria o Facebook, Google e outros provedores de internet a divulgar quem está comprando anúncios políticos em seus sites.  Tudo isso começou a chamar a atenção de Wall Street.

Até aqui, no entanto, as Big Four continuam sendo as maiores responsáveis pelo setor de tecnologia no mercado acionário (XLK) já ter aumentado quase 30% este ano.

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Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.