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2018, o ano em que o Blockchain deve superar o hype

Cristina De Luca

29/01/2018 23h56

2017 foi bom para o Blockchain. O Ethereum surgiu como a primeira plataforma de propósito geral para a construção de aplicativos distribuídos. Vimos muitas provas de conceito e projetos piloto em torno do próprio Ethereum e outros sabores do Blockchain, como Hyperledger, Fabric, R3 Corda, Quorum, Chain Core e BlockApps, mas poucas aplicações funcionando comercialmente e em escala. E as primeira ofertas de Blockchain como serviço (BaaS), pelas mãos de gigantes da tecnologia como Microsoft, IBM, Hewlett-Packard Enterprise (HPE), Oracle e SAP, todas com a proposta de tornar mais fácil para as empresas testar e implantar a tecnologia. Além de produtos de centenas de start-ups.

O Blockchain virou hype. E, inevitavelmente, começou a padecer das dores do crescimento. Questões em torno da escala e da governança começaram a pipocar, aqui e ali.

Por isso, 2018 chega com a promessa de tornar realidade parte do tão badalado potencial do Blockchain, como admite o próprio Don Tapscott, autor do livro referência "Blockchain Revolution". Novas plataformas, como a Cosmos, a Aion, a ICON e a Polkadot – devem ajudar a resolver problemas críticos de escalabilidade, interoperabilidade e governança. "Estas novas plataformas são diferentes das predecessoras, porque foram projetadas desde o início para superar muitos dos estrangulamentos existentes", comenta Don, em artigo para o Quartz.

Estrangulamentos? É. A Fundação Ethereum, por exemplo, está buscando desenvolvedores externos para ajudar a resolver problemas de desempenho. O Ethereum atingiu um milhão de transações por dia, segundo seu criador, Vitalik Buterin, e necessita escalar.

A escalabilidade do Blockchain é difícil principalmente porque a tecnologia exige que cada nó na rede processe todas as transações, o que limita a capacidade de processamento de transações de todo o sistema à capacidade de um único nó. Ao exigir que todos os nós (servidores) processem cada transação, o Blockchain ser tona mais  resiliente aos ataques cibernéticos – como centenas ou milhares de nós teriam que ser pirateados para ganhar controle da rede – mas também demasiadamente lento no processamento de muitas transações.

"Algo que pode ser minimizado com arquitetura e código bem feitos", opina Carl Amorim, country manager do Blockchain Research Institute (BRI) para o Brasil. A BRI é uma organização fundada por Don Tapscott e seu filho, Alex, com foco na  pesquisa de aplicações Blockchain em diversos segmentos e mercados. Entre seus membros fundadores estão empresas como Microsoft, IBM, SAP, Accenture, KPMG, Nasdaq, Fedex, Pepsico e Governo do Canadá, entre outros.  E os projetos em análise saltaram de 40 para 75 em poucos meses, impactando 8 setores: indústria, varejo, tecnologia, saúde, mídia, governo, energia e finanças.

Um estudo recente da Forrester vai pelo mesmo caminho. "Se implementada de forma adequada, o Blockchain oferece suporte a novos modelos de negócios e confiança", dizem os analistas da consultoria.

Ainda assim, para algumas aplicações, a prática tem demonstrado que  a performance pode ser um gargalo. O que pode ser percebido como um contrassenso, já que  uma das promessas do Blockchain é justamente aumentar a eficiência dos processos. Fazer o que é necessário no menor tempo, com o menor custo e o menor gasto de recursos.

A dificuldade de escalabilidade tem limitado o Blockchain a implantações de nicho. Entre elas, estão algumas com potencial para gerar benefícios comerciais imediatos. Muitas intra empresa. Grandes organizações globais estão obtendo ganhos de eficiências colocando certos processos em uma cadeia de blocos interna. Outras, envolvendo todo um ecossistema, como a aplicação para rastreamento de alimentos por parte do WalMart.

"Muitos fornecedores de tecnologia e prestadores de serviços estão colaborando e trabalhando com consórcios como o Enterprise Ethereum Alliance e o Hyperledger Projects para desenvolver soluções inovadoras que melhorem processos como processamento pós negociação e rastreamento de cadeias de suprimentos, além de registros de transações para auditoria e conformidade", diz Bill Fearnley Jr., diretor de pesquisa da World Blockchain Strategies, da IDC.

"2017 foi o ano da experimentação, em que as empresas perceberam os benefícios e os desafios da cadeia de blocos. Em 2018, essas organizações procurarão melhorar a eficiência das operações existentes, promovendo novas aplicações, criando novos fluxos de receita", completa Stacey Soohoo, gerente de pesquisa da Customer Insights & Analysis .

Resumindo, em 2018 a fase de avaliação racional do Blockchain dará lugar a mais aplicações práticas. Boa parte do hype ficará para trás, os investimentos se intensificarão.

Segundo as previsões da IDC, eles serão liderados pelo setor financeiro (que colocará US$ 754 milhões em Blockchain em 2018). O setor de distribuição e serviços, outros US$ 510 milhões. E o setor de produção e recursos, US$ 448 milhões. "Os investimentos totais deverão girar em torno de US$ 2,1 bilhões em 2018, mais do dobro dos US$ 945 milhões gastos em 2017", diz o estudo da IDC. A previsão é a de que esses investimentos cresçam a um ritmo sólido entre 2016 e 2021, com uma CAGR (taxa de crescimento anual composta de cinco anos) de 81,2%, chegando a US $ 9,2 bilhões em 2021.

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Em tempo: o Blockchain Research Institute (BRI) já definiu uma série de atividades no Brasil, em parceria com os associados locais como o Governo do Estado de São Paulo, a Fundação Getúlio Vargas e a IBM Brasil.  Entre essas atividades estão cursos, seminários, além de produção de artigos para revistas, sites e jornais, edição de livros, suporte para iniciativas de formação de políticas e regulação e a criação de Centros de Excelência de Blockchain no país. Está envolvido também em duas iniciativas nacionais de adoção de Blockchain: o desenvolvimento de um token para o mercado imobiliário brasileiro pela BlockBr e o de uma plataforma para acompanhamento e prestação de contas de campanhas políticas.

Essa semana, Don Tapscott voltará ao Brasil, para falar na CampusParty e inaugurar o escritório da BRI, além de anunciar o primeiro Centro de Excelência de Blockchain em parceria com uma grande empresa.

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Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.