Bill Gates e Mark Zuckerberg põem privacidade nas resoluções de Ano Novo
Cristina De Luca
09/01/2019 14h03
Em 2018, vários líderes da indústria digital concentraram boa parte do seu tempo debatendo sobre questões importantes em relação à privacidade dos usuários. Mark Zuckerberg descobriu que privacidade é um dos temas mais espinhosos em relação à sobrevivência do Facebook, e decidiu incluir em suas tradicionais resoluções de Ano Novo sediar uma série de discussões públicas sobre o futuro da tecnologia na sociedade, para responder a questões como se devemos ou não descentralizar a autoridade por meio de criptografia ou outros meios para colocar mais poder nas mãos das pessoas.
"A cada poucas semanas conversarei com líderes, especialistas e pessoas da nossa comunidade, de diferentes áreas, e tentarei formatos diferentes para manter o debate interessante. Tudo isso será público, seja nas minhas páginas do Facebook ou Instagram ou em outras mídias", escreveu o CEO do Facebook em um post na rede social.
Poderia começar convidando Bill Gates, que em suas resoluções de Ano Novo citou abertamente a privacidade como uma das duas áreas-chave em que a tecnologia tem o potencial de causar um impacto enorme na qualidade de vida e de levantar considerações éticas e sociais complexas. A outra é o uso da tecnologia na educação.
Eu diria que ambas andam de mãos dadas.
Sem educação digital jamais teremos um bom equilíbrio entre privacidade e inovação. Educação dos usuários, no sentido de incorporar comportamentos seguros no trato com a tecnologia, uma vez que a privacidade é pessoal, filtrada e orientada para troca de valores. E educação de engenheiros e desenvolvedores, para que adotem o privacy by design como prática padrão. O próprio Zuckerberg aborda essa questão em seu post ao afirmar que, como engenheiro, costumava construir suas ideias e esperar que elas falassem por si mesmas. "Mas, dada a importância do que fazemos, isso não funciona mais". Bingo!
De fato, estaríamos bem melhor se os profissionais responsáveis por metade dos produtos e serviços digitais que usamos hoje pensassem mais nas consequências de suas criações antes de lançá-las. Não por acaso, o futurólogo Gerd Leonhard também elegeu Ética Digital / Ética da Tecnologia como um dos seus cinco tópicos-chave para 2019.
Em um futuro onde os seres humanos e as máquinas inteligentes estarão cada vez mais interconectados e sobrepostos, ética e privacidade deverão ser preocupações básicas de todos.
Já temos hoje ferramental e poder computacional para monitorar todos os pontos de dados, cada movimento, cada imagem, cada palavra e, possivelmente, cada pensamento. Como lidar com isso?
Segundo a Forbes, grandes corporações já estão se movendo em direção a práticas sustentáveis e socialmente conscientes para refletir as mudanças nas demandas dos consumidores. Talvez estejamos assistindo a um movimento semelhante por parte das gigantes da economia digital em direção a práticas transparentes de coleta, armazenamento e uso de dados pessoais.
Já dizia McLuhan que nós criamos o futuro, porque nós inventamos as ferramentas que, por vezes, em seguida, "nos reinventam", e (re)enquadram toda a nossa realidade.
A ver.
Sobre a autora
Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.
Sobre o blog
Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.