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Pronto para conversar com os fones de ouvido inteligentes?

Cristina De Luca

14/01/2019 07h36

A rápida adoção de alto-falantes inteligentes colocou os assistentes de voz na agenda dos consumidores. Seu uso crescente  indica que estamos prontos para nos libertarmos das telas, mesmo que ainda hoje haja o dobro do número de usuários ativos de assistentes por voz em smartphones , e que o uso do Alexa, do Google Assistant, etc, em carros também já exceda o uso dos Echo, Google Home, etc, segundo estudo da Voicebot.

E se toda essa gente decidir interagir com seus dispositivos equipados com assistentes de voz usando somente seus fones de ouvido? Os hearables estão cada vez assumindo essa função.

A  eMarketer define  os hearables como dispositivos que podem operar alguns recursos sem estarem conectados a outro dispositivo. Outras organizações o definem de forma diferente, incluindo entre eles dispositivos de ouvido conectados ao Bluetooth, incluindo Airpods. Já a maioria das pessoas os descreve como dispositivos que enviam dados biométricos ou sinais de áudio para smartphones e integram aplicativos ou assistentes pessoais.

Essencialmente, o que temos hoje é um microcomputador que cabe no nosso canal auditivo e utiliza a tecnologia sem fio para complementar e aprimorar sua experiência auditiva e, cada vez mais, nossa comunicação com o mundo conectado ao redor.

A primeira vez que ouvi falar em  "hearables" foi em fevereiro de 2018, quando um artigo da Fast Company levantou a possibilidade de o futuro da interação por voz estar nos nossos ouvidos. Na reportagem, analistas de mercado sustentavam a tese de que os ouvidos têm algumas propriedades extremamente valiosas para embalar essa tendência. Estão localizados a poucos centímetros da nossa boca, o que lhes dá melhores condições de entender nossa fala, comparados aos  alto-falantes inteligentes do outro lado da sala ou localizados dentro veículos, com muito ruído ao redor. Em um futuro não muito distante,  aparelhos auditivos melhorados por IA  serão capazes de entender mais do que as palavras que falamos, dizem eles.

Aos fatos…

Ao longo de todo o ano passado, apenas 1,4% dos usuários de fones de ouvido sem fio interagiram com assistentes de voz por meio de fones de ouvido, de acordo com outro relatório da Voicebot.

Vale lembrar que foi só em 2018 que os Airpods passaram a acionar a Siri, e os fones de ouvido sem fio Jabra Elite 65t e Bose QC 35 ganharam integração com o Alexa.

Em outubro, a Qualcomm deu um passo além, ao lançar o Qualcomm Smart Headset Reference Design for Amazon Alexa Voice Service. Sua intenção é ter um design de referência destinado a servir como um guia para os OEMs no desenvolvimento de produtos audíveis desenvolvidos para o Alexa.

O Google, por sua vez, não está em uma posição muito diferente da Amazon quando se trata de oferecer acesso on-the-go a seu assistente inteligente, devido ao seu ecossistema Android. A péssima receptividade do Pixel Buds pode ter inibido o ecossistema, ressalta David Kemp, analista do Voicebot.

Mas, "à medida que as interfaces de voz se tornam mais importantes e os sensores biométricos mais predominantes, faz muito sentido que as funções hoje incorporadas nos telefones mudem para fones de ouvido inteligentes ou hearables", garante Yoram Wurmser, analista principal da eMarketer.

Ele pode ter razão. Rumores indicam que a Apple se prepara para levar os hearables para o mercado de massa com o lançamento do AirPod 2. E a Sony está integrando o Alexa e o Google Assistant em seus fones de ouvido sem fio WH-1000XM3.  [Atualização de 15/01 – A Sony anunciou que a partir de 17/1, os headphones Noise Cancelling WH-1000XM2 e WH-1000XM3, disponíveis no Brasil, passam a funcionar com o Alexa, e Google Assistant (em português)].

Entre os primeiros segmentos impactos pela tendência dos hearables enriquecidos por IA e assistentes digitais ativados pela voz está o de Healthcare. Na CES 2019, a Starkey anunciou que seus aparelhos auditivos Livio AI incluirão uma nova versão do seu próprio assistente, o Thrive, integrado com o Google Assistant e o Alexa, à preferência do freguês. O Thrive tratará localmente de questões relacionadas à solução de problemas e ao aparelho auditivo, resolvendo questões do tipo "Qual configuração estou usando?" ou "Quanta energia resta em minhas baterias?", enquanto Google Assistant e Alexa se encarregam de perguntas mais gerais serão enviadas para a nuvem. Recurso  ativado com um duplo toque no dispositivo ou através de um aplicativo.

E as aplicações na área de saúde e cuidados pessoais vão muito além de ajudar pessoas com deficiência auditiva a melhorar suas condições de escuta. O próprio Livio pode detectar quedas. O Jabra Sport Pulse, o Sony B-Trainer, o SMS Audio Biosport, o Huawei R1 Pro e o LG HR Earphone,  monitoramento da frequência cardíaca, graças ao uso de sensores biométricos desenvolvidos em parceria  com a Valencell, uma empresa norte-americana que desenvolve tecnologia  biométrica para produtos audíveis. Muitas empresas ainda estão tentando descobrir o nicho que seu produto irá atender. Já existem fabricantes trabalhando em sensores para produtos audíveis que poderão habilitá-los à medir a temperatura corporal e a pressão arterial, oximetria de pulso, ECG, sinais de eletroencefalograma e muito mais. A NEC anunciou recentemente uma tecnologia que utiliza ondas sonoras para reconhecer e identificar acusticamente uma pessoa (ou seja, o proprietário do dispositivo auditivo) com base no tamanho e na forma da orelha.

Além disso, um recurso dos iPhones liberador para o AirPods, chamado "Live Listen",  está se tornando viral. Ele auxilia pessoas com deficiência auditiva a ouvir melhor o que está sendo dito em ambientes ruidosos, como em um restaurante lotado ou em uma sala de aula. Basta ligar e apontar o microfone do iPhone para a pessoa que você quer ouvir. Então, você pode ouvir o que ela está dizendo através do seu aparelho auditivo ou AirPods, transportados pelo ar, através do Bluetooth. O problema é que não é preciso estar muito próximo da pessoa para ouvir e até gravar. Razão pela qual muitos usuários já o apelidaram de recurso espião. 

O Live Listen existe desde 2014, e funcionava apenas em aparelhos auditivos certificados pela Apple, até o recurso ter sido habilitado ao AirPod…

Mercado
O CCS Insight, que define os hearables como dispositivos portáteis baseados no ouvido que fornecem funções inteligentes além da música, previu que as remessas de aparelhos auditivos em todo o mundo aumentaram de 2 milhões em 2017 para 6 milhões em 2018.

Já o Gartner  previu em novembro de 2018 que os dispositivos hearables devem ultrapassar as remessas mundiais de smartwatches até 2022, quando somarão 158,43 milhões de unidades, contra 115,20 milhões de smartwatches.

 

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Sobre a autora

Cristina De Luca é jornalista especializada em ambiente de produção multiplataforma. É diretora da ION 89, startup de mídia com foco em transformação digital e disrupção. Foi diretora da área de conteúdo do portal Terra; editora-executiva da área de conteúdo da Globo.com; e editora-executiva da unidade de Novos Meios da Infoglobo, responsável pela criação e implantação do Globo Online. Foi colunista de tecnologia da Rádio CBN e editor-at-large das publicações do grupo IDG no Brasil. Master em Marketing pela PUC do Rio de Janeiro, é ganhadora do Prêmio Comunique-se em 2005, 2010 e 2014 na categoria Jornalista de Tecnologia.

Sobre o blog

Este blog, cujo nome faz referência à porta do protocolo Telnet, que é o protocolo de comunicação por texto sem criptografia, traz as informações mais relevantes sobre a economia digital.